Vingança. Segundo o dicionário: ação de se vingar, de causar dano físico, moral ou prejuízo a alguém para reparar uma ofensa, um dano ou uma afronta causada por essa pessoa. Ato retaliativo contra quem seria o causador de uma ofensa ou de um prejuízo. Qualquer tipo de punição, castigo; tudo o que pode castigar ou causar sofrimento.

Isso latejava na minha cabeça enquanto eu polida as minhas espadas, pensando em como mataria a pessoa responsável pelo assassinato de Brando. Não sabia o seu rosto, muito menos quem ele era, mas eu tinha uma pessoa em mente que era o mandante daquele crime hediondo: meu irmão, que fora o responsável por armar o crime que me expulsara de Calipso, atirando-me do paraíso para os campos verdejantes de Vlitra. Mas eu era um guerreiro, minha vida era voltada para as lutas, portanto acabei me tornando um criminoso nas ruas de El Diablo.

Minha vida havia mudado desde que eu havia conseguido os meus dragões. Minhas preocupações envolvendo o reino passaram, se tornando apenas um sonho distante. Não mantinha mais contato com as pessoas de Calipso; todos os meus amigos se tornaram inimigos, ninguém havia ficado do meu lado e fui julgado como um criminoso, antes mesmo de eu tentar apresentar provas. Meu irmão havia sido implacável ao mandar matar minha noiva e armar para que eu fosse o culpado, além de ter mandado assassinar o homem que eu amava, com quem eu planejava fugir e viver em segredo.

Eu nunca o perdoaria por isso.


A fama envolvendo Ryan DiMarco não era das melhores. Segundo alguns conhecidos, ele era um usuário de drogas degenerado, cujos poderes envolviam o contato com os mortos. Ele era um sujeito desagradável, tinha nenhuma amizade e todos os seus vizinhos de Vlitra o julgavam como uma praga a ser detida. Pois bem, por que eu estava pensando em ir visita-lo, então? Simples: vingança. Queria vingar a morte de Brando e eu não hesitaria em pedir a ajuda de um necromante para contatar seu espírito, recolhendo algum retrato falado e me dando todas as informações necessárias para localizar os bastardos.

O cavalo negro que me levava à casa pareceu nervoso diante da casa do bruxo, quase como se a sua propriedade estivesse repelindo-o, mesmo com as comportas de sua fazenda abertas. Certo, isso era um pouco sinistro. Desci do animal e, parando na entrada de sua residência, bati palmas, atento à casa do loiro, esperando pelo necromante misterioso.

Não havia muito o que se fazer em Vlitra. Das paisagens verdejantes as fazendas cheias de frutos frescos, o local era um dos mais amplos e o último protegido pelas muralhas, entretanto era um dos mais procurados por alguma razão. No passado, eu havia odiado ter sido mandado para cá após minha expulsão de Calipso, mas observando melhor esse lugar tão lindo e pacífico, eu realmente lamentava por não ter permanecido aqui no passado. Minha vida poderia ter sido bem mais fácil sendo um mero camponês do que sendo um espião e prostituto em El Diablo. Pensando bem sobre isso, eu realmente havia sido bobo em não ter ficado aqui.

O jovem necromante de que tanto me falaram não era assustador; muito pelo contrário, era só um rapazinho fofo de no máximo quinze anos. Estranhei ser atendido por ele, mas provavelmente os seus responsáveis deveriam estar lá dentro, ocupados. Pensei no que aquilo significaria para mim: ir atrás dos responsáveis pela morte de Brando, vingá-lo pelo seu assassinato injusto e fazer justiça com as minhas próprias mãos. No passado, pensava em expor tudo, mostrar aos nobres de Calipso que eu havia sido acusado injustamente por aquele crime, que tudo não passava de uma armação, mas agora, via o quanto eu seria mal visto por todos ali caso retornasse. Eu era um nada para eles e não devia absolutamente nada a ninguém. Aquela era a decisão certa.

— Preciso de um favor, rapaz, você que é o Ryan DiMarco? — perguntei com as mãos nos bolsos, reparando que ele era bastante maduro para a sua idade e também um pouco sério demais. — Eu preciso de um favor de alguém com poderes como os seus, um necromante. Preciso de detalhes de um morto. Eu posso pagar bem. — E eu falava a verdade; havia juntado uma boa grana e pretendia usar tudo para poder conversar com o meu amado mais uma vez.