Como sempre o sono de Ravena se estendia por um período longo da manhã graças a suas madrugas fora dali, eram quase meio dia quando despertou com uma fresta de luz bem em cima de seus olhos, resmungando sobre a necessidade de cortinas mais escuras. Se espreguiçou entre os travesseiros e enrolou para levantar da cama, já poderia imaginar como seria a rotina desse dia após a noite passada... sua mãe lhe questionando sobre sua postura, seus irmãos lhe dando pequenas broncas para se comportar e o pior, o olhar de decepção que seu pai teria sobre ela. Eles não eram capazes de entender o que acontecia com a princesa, nem ela mesma sabia como explicar, mas não fazia questão de ser compreendida, desejava apenas ficar em paz, sem atrapalhar vidas alheias.

Mais uma vez a fresta de luz chegou em seus olhos e num salto fora da cama a morena xingou até sua sétima geração, coçando os olhos para que a visão pudesse retornar: Mas nem mesmo o exterior quer a minha paz. - Rosnou, reparando que o feixe de luz vinha de sua penteadeira, como se a mesma refletisse algo brilhante que havia sobre ela. O pedaço de papel dourado fez a garota sorrir, não se demorando a ficar pronta para o encontro com o homem que tanto amava, o seu pai. A tempos eles não se encontravam para algo tão casual, Ravena sentia falta da infância e da presença frequente do homem em sua vida, onde eles compartilhavam todos os segredos, onde se conheciam melhor do que qualquer um.

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Após se banhar encarou o closet, com os mais diversos vestidos a sua disposição. Procurava com pressa um em questão, um vermelho especial, o único de cor chamativa ali que conseguia se camuflar tão bem, talvez pelo nervosismo Ravena não prestava tanta atenção nos detalhes. Finalmente com a peça em mãos pode admirar o capricho do vestido longo, um presente certeiro de seu pai que a anos ficou guardado no armário por pura pirraça da filha e pela primeira vez em anos não se demorava a vesti-lo e perceber o quão bem a peça lhe desenhava no corpo.

A saia era longa, mas não tão rodada, na cintura lhe apertava, até o busto, subindo com uma gola justa. Sem o minimo de decote. Mas com os braços totalmente a mostra. Os bordados eram dourados, chamando ainda mais atenção para a peça, sendo um detalhe especial para que a roupa tivesse o toque da personalidade da garota. Com toda certeza Hades sabia como presentear sua filha.

Os cabelos negros eram presos em um coque, com alguns fios rebeldes soltos, assim com a franja que mesmo bagunçadas trazia graciosidade ao penteado. Assim como a maquiagem que apenas realçava suas características, nada pesado ou exagerado. Era a imagem de sua mãe, mas com o coração de seu pai. No final, resultando na princesa que seu pai sempre esperava ter, permitindo sorrir para si mesma em frente ao espelho. Era hora de se despedir das suas inseguranças.

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Atencioso que só com as flores, Ravena admirou de longe o cuidado do pai com as rosas, sorridente conforme ficava cada vez mais próxima. A forma com que seu pai a encarou lhe fez recuar um passo, deveria ter tomado mais cuidado para não pega-lo no susto. O tom de voz do homem era melodia, a tempos não o ouvia falar assim e com toda a certeza não o deixaria sem uma resposta: Você sabe que uma das minhas coisas favoritas é conversar com você, pai. Não tem graça vir aos jardins sem ter seus conselhos. - ria baixo, com as mãos a frente do corpo numa postura impecável. Quando queria ela sabia se comportar.

Encarou a cadeira e logo se lembrou de que quando criança amava esses pequenos "truques de mágica", todas as noites pedia baixinho antes de dormir que seus poderes fossem semelhantes ao do pai, desde sempre gostaria de ser sua imagem e semelhança. Recebendo um dom que mais parecia uma maldição: Não se esqueça da sua, papai. Não é educado apenas o convidado se sentar. - brincou, se ajeitando ali com as pernas cruzadas. Feliz, até receber as perguntas do mais velho, que a fez engolir seco por instantes.

- Sei que não aprova minha justiça e te juro que dei um fim nela. - Seu tom de voz era sério, suas palavras eram sinceras, em algumas partes. Ravena não usava mais de seus poderes pois até então não havia encontrado quem os merecesse, mas ela sabia que jamais recuaria a essa situação caso fosse necessário. Faria de tudo pela segurança de quem ama: Eu decidi conhecer quem o senhor governa. Quero aprender como vivem, ver de perto. Eles me tratam bem. - a morena sorria ao lembrar dos plebeus lhe apresentando sua rotina: Os comerciantes tem uma lábia muito boa, nossos soldados se sentem bem motivados. Podemos melhorar as coisas para quem vive em El Diablo com toda a certeza, mas por lá ha tanta coisa a se fazer que fico perdida em como começar. Queria ter ideias sobre isso. - tentava entrar em um dialeto sobre politica com o pai, como sempre a menina gostaria de impressiona-lo para que algum dia o mesmo a visse como uma futura Imperatriz.

- E as festas em Kaleo são divertidas, eles sabem como se divertir. Fazem os nobres parecerem tão sem graça. - Ria para si mesma com a imagem da sua ultima noite, tendo Freya como sua companhia e protetora. Ambas a dançar enquanto provam da cerveja caseira de um bar qualquer, aproveitando a parte boa em se viver, a liberdade: Eu gostaria até mesmo de ir além, mas Free ainda me proíbe de ir tão longe em Vlitra. Poderia ser uma expedicionária, papai. - dedilhou as pétalas das flores, apreciando o perfume das perfeitas rosas, numa paz de espirito tão grande na verdade que dividia com o pai, como nos seus primeiros anos de vida: E você, pai? Como está a vida de Imperador? Há algo que eu posso fazer para ajudar?