Ainda utilizando a vestimenta que eu costumava vestir para meus dias de patrulha, desci de meu cavalo, sem prestar atenção a ninguém ao meu redor, deixando o meu equino de pelagem alva para ser levado ao estábulo pelos subservientes de Calipso. Subindo os degraus de mármore, mantinha uma expressão de poucos amigos em meu rosto, ignorando vários cumprimentos enquanto prosseguia rumo ao meu quarto. Se havia algo que eu odiava, era que se intrometessem em meus negócios ou no meu trabalho, assim como em minha vida pessoal. Se Amren realmente pensava que iria me subestimar e diminuir minha imagem perante toda a guarda civil, ela estava redondamente engana. Sendo abordada por minha mãe, limitei-me a dar oi para a mesma e prosseguir rumo ao meu quarto. Fechei a porta, trancando-a e então respirando profundamente, abrandando um pouco de meu humor e recostando-me na parede de pedras, deslizando por ela até me sentar no chão.

Maldita! Retirei a tiara de minha cabeça, atirando-a longe, batendo repetidamente minha cabeça na parede, sem força alguma, somente como forma de descontar minha raiva. Tudo havia começado com um projeto de patrulhamento que eu havia moldado e apresentado para a guarda real, bem como a general que, em toda a sua arrogância, o vetou sob a justificativa do mesmo ser "desleixado, com muitas áreas de risco deixadas com pouca ou quase nenhuma vigilância". Como ela ousava me subestimar e rebaixar meu projeto daquela forma? Frustrada, simplesmente sorri, assenti e, após o fim da reunião, saí praticamente correndo. Como eu a odiava. Fui até minha penteadeira, desfazendo a traça comprida e, ao ver a porta ser aberta, atirei uma adaga e por pouco não atingi a face de Morpheu. Levei a mão esquerda à boca, pasma.

— Perdão, eu não quis... — me desculpei, indo até o mesmo e abraçando-o fortemente, fechando a porta e beijando-o nos lábios. — É que Amren vetou um projeto que criei, só isso. Me irritei. — Fiquei tensa, cruzando os braços e baixando o olhar. Confesso que, apesar de tudo, respeitava a vadia, afinal ela havia conseguido chegar aonde chegou por mérito próprio e com seu esforço, mas mesmo assim eu a odiava. Isso eu nunca poderia negar.

Eu odiava ser contrariada, isso era verdade, mas a verdade era que Morpheu era uma das poucas pessoas que conseguia me deixar calma. Ele tinha razão sempre, o que me deixava irritada e furiosa por ele sempre me mostrar o óbvio, aquilo que estava na minha frente o tempo inteiro. Como eu costumava dizer em tom de brincadeira às vezes, meu irmão era o meu cérebro. Passei a mão pela minha testa, massageando-a, então virei-me para meu irmão, sendo surpreendida por suas carícias. Ele sempre era agradável, quase como se fosse um sonífero ou um calmante.

— Sim, mas é um pouco difícil viver à margem de sua irmã. Você é homem, não há nenhum irmão mais velho que possa lhe ofuscar. Comigo a história é outra — comentei enquanto afastava-o de perto de mim gentilmente, ajeitando meus fios loiros e sentando-me no banco fofo de minha penteadeira, amarrando meus cabelos em um coque enquanto caçava uma boa maquiagem. — Amren sempre é melhor que eu, ela é a grande general, era tratada com mais rigidez pelo papai, enquanto eu sempre era a garota frágil e boba que tinha de ficar em casa. Sei que ela sofreu nas mãos do nosso pai, que ele era um filho da puta miserável e queria transformar a primogênita num menino, mas... ela conseguiu chegar longe através disso, entende? — comentei, parando para pensar no que eu havia acabado de falar. Eu estava com inveja da minha irmã por ela ter sido tratada mal por nosso pai?

Calei-me, suspirando enquanto passava um pouco de pó em minhas bochechas, pegando em seguida o batom vermelho e passando-o em meus lábios carnudos, comprimindo-os e então mandando um beijinho para mim mesma no espelho. Sentia o olhar de Morpheu logo atrás de mim, o que me fez voltar-me para ele e sorrir, segurando a mão de meu irmão, estando eu ainda sentada.

— Já ia me esquecendo de você, como foi o seu dia? — perguntei, desviando do assunto.