O crepúsculo pintavam o fim de tarde e início de noite penumbral. O alaranjado e iluminação amena proporcionavam um cenário perfeito, desconsiderando ainda o ambiente selecionado para o encontro. O tilintar dos dedos nos bíceps, de braços entrelaçados ao tronco, exibiam uma postura impaciente. Como odiava ter de esperar, afinal, todo ser sempre queriam tudo e todos para ontem. Guardou para si a mínima raiva quando os olhos capturavam a silhueta feminina reconhecida, do mesmo jeito que o sorriso formou-se nos lábios do rapaz.

Por um motivo dito por ela, havia atrasado-se para o encontro que deveria ter começado horas antes. Mas, ele sequer se importou muito, embora desse ouvidos a quaisquer palavras pronunciadas por aquele tom sereno da voz de Chiara. Infelizmente, tinham de despedir na madrugada, principalmente por assuntos que a capitã tinha de resolver pela manhã seguinte em relação à carreira profissional que seguia. A despedida, como sempre, foi marcada por um longo beijo, compartilhando todos os sentimentos, emoções, sensações e etc. que um sentia pelo o outro.

Um suspiro descontente esvaziou os pulmões do herdeiro Forchheim, assim como os ombros contraíram-se pela mesma razão; era triste ter de vê-la partir toda santa manhã para seguir a vida que fingia gostar. O chacoalhar das folhas de uma moita relativamente próxima levantou suspeitas a ele. Encarou aquilo. Não havia vento, os empregados tinham todo o cuidado para nenhuma criatura habitar o território dos Forchheim. Com a mão, apanhou a gola da blusa assim que notou olhos curiosos, ocultos entremeio ao amontoado.

— O que você faz aqui? — Ignorou a pergunta feita anteriormente pelo mais novo como se nem existisse. No fundo, Rylee incomodou-se com aquelas palavras, o que queria dizer que estava refém da sabedoria de seu primo - afinal, ele sabia da existência de Chiara e o que tinham. — Sempre metendo-se onde não deve. — A séria feição do mais velho manteve-se ao longo de toda a extensão do diálogo em que reprimia as tendências alheias.

Absorveu o oxigênio para o interior após soltá-lo. Recompôs a conduta mais superior, normalmente que viam-no a sustentar, como se nada o abalasse. — Presta atenção, Öcean, eu te falo sobre ela, mas tu tem que jurar aqui e agora que não vai abrir o bico para ninguém. — Mesmo que soasse de forma quase que ameaçadora, era mais uma súplica do que uma ameaça. — Nem para um confidente. — Enfatizou. — Posso confiar em você?

A neutralidade perceptível, além de visivelmente exacerbada, eram um incômodo. Nem mesmo a diferença de idade e posição na hierarquia familiar, o que justamente viam-se como os fatores fundamentais para o pavor, criavam no parente do mais velho. Portava entre mãos a habilidade de tornar a vida daquele o próprio inferno, dependendo, afinal, do rumo que o todo o enredo passaria a tomar dali para frente, já que não era do feitio de Rylee ter de pôr neste modo.

A quietude do momento o trazia calafrios. O que passava-se na mente do menino, pensava o Forchheim, enquanto os globos corriam o perímetro o mais rápido possível, buscando outras entidades senão os dois. O tempo era uma agradável vantagem à situação, ninguém estava acordado nas proximidades da residência; sequer uma luz acesa entre as paredes, visualizadas por meio do vidro. A respiração foi usado como objeto para acalmar os nervosos, tendo de neutralizada antes de qualquer coisa.

Deparando-se com a pergunta inicial, claramente uma ironia proeminente da delicada voz adolescente de Öcean. Não entregou-se às provocações, mas as respondeu com a leitura do corpo: o revirar dos olhos. A seguinte, por sua vez, séria, o fez prender o foco visual à feição mais nova. Em silêncio, esperava que as palavras corressem por si próprias, ou emanassem da sua mente até a dele. Contudo, não fazia parte do seu arsenal de possibilidades.

— O nome dela é Chiara. — A princípio, a apresentação como forma de cordialidade. — É a capitã da guarda real, deveria saber. — Acentuou a informação, visto que é um cargo de inúmera importância, especialmente aos habitantes do distrito real. — Ela não é de Calipso, mas namoramos há anos. Ou melhor, estamos noivos atualmente, mas só nós sabemos disto. — Lentamente, proferia as letras com calma a fim de perpetuar a frieza no tom, o que dificilmente estava a conseguir manter no momento. — Quero dizer, agora você sabe também.

O maxilar trincado, cravando as presas dentárias umas contras as outras até sentir uma sutil latência na fricção constante dos ossos em questão. Quando parou de cercar todos os ângulos, era motivo mais do que suficiente para entrar em paz de espírito. Desconsiderando os períodos viventes no exterior a fim de fortalecimento pessoal, algo não imposto a ele por sua vez, Öcean pouco tinha em mente dos desastres de uma vida nobre; ter de sempre andar com um sorriso na cara para transpassar a atmosfera de segurança aos demais imperais, assim como arcar com as necessidades de filiações políticas.

Desde a infância de Rylee, seus dias já foram arquitetados de acordo com a visão do que era certo por seu progenitor, Arkadius Forchhiem. Treiná-lo incansavelmente, fazê-lo despertar o anseio por respostas das quais perguntava-se antes de dormir, aliar-se algo ou alguém escolhido devidamente por ele no sagrado sacramento. Enfim, jamais um dos itens citados agradavam ao filho do Primeiro-Investigador. Todavia, a submissão em acatar e agradar as vontades do pai, ostentava o sorriso na boca e assentia o balançar da cabeça às propostas.

Como o mais baixo não se dava ao luxo de perder um pronunciamento, provindo da movimentação labial do outro, o herdeiro prestou atenção em cada palavra contextualizada. As mãos foram ocultadas no bolso. Embora lesse diariamente pilhas de livros dos mais diversos assuntos, nenhum explicitava o sentido por trás de atos como leitura corporal ou coisa do gênero. — O quanto antes. — Simples e curto foram a réplica no primeiro plano. Após uma breve pausa, continuou a orientar. — Já temos para onde ir, só falta findar alguns preparativos e tarefas. Fora que, como estou sendo obrigado a me casar com uma menina da família Havard, a cerimônia está se aproximando cada vez mais.

O que passa-se por sua cabeça? Questões do gênero amedrontavam a psique do mais velho. Uma das razões para isso era o porquê de simplesmente ter permitido que as palavras esvoaçassem para fora de sua boca, contando-o tudo que tem feito nos últimos anos; o que tem aprontado, com quem e de que modo. Ao dar conta de si, estava feito e não tinha mais o que negar. Uma confissão, mesmo em um momento desesperador e de crise, ainda era uma confissão e Öcean poderia tirar proveito dela de inúmeras formas.

A respiração lenta de Rylee era perceptível, bem como falsa. Por diversas questões, não devia encontrar-se assim. O olhar cabisbaixo, calado com o término dos dizeres, tinha o solo como alvo do seu fitar. Serrilhava os dentes, uns contra os outros. Todavia, uma luz incandescente iluminou seu caminho. A resposta o dado foi ela, fazendo com o que o herdeiro dos Forchheim exibisse um sorriso nos cantos dos lábios.

— Mas por quê? — Tanto a um, quanto a outro, apontou a indagação. Surpreso com a reação tida pelo de menor altura, confidente aos segredos do primo, Rylee encarou-o com pasma expressão. — Você poderia muito bem usar essas informações e fazer aquilo o que eu disse. — Ligeiramente, caçou na mente a frase proclamada para si mesmo anteriormente. — "Transformar a sua vida em um inferno". — Complementou. — Por quê? — Veementemente incrédulo com a maturidade de um ser adolescente, repetiu.