Para deixar o interior das muralhas de Weingarten sem correr o risco de ser visto pelos guardas, Cartaphilus entrou escondido em uma embarcação clandestina que saía pelo rio de El Diablo. Era o método mais prático e consideravelmente divertido. Certas vezes, era pego pelos tripulantes, o que acabava por gerar brigas emocionantes. No fim, sempre conseguia ir para onde queria.

Quando se encontrava já distante dos grandes muros, a quimera saiu de dentro do barril em que havia se escondido. No processo, assustou um rapaz que estava bebendo naquele compartimento. Cartaphilus permaneceu imóvel, encarando o outro através de sua máscara. Nenhum dos dois sabia o que fazer, até que mais tripulante surgiu e gritou que havia um intruso. Um medo compreensível quando se navega próximo das terras dos ghouls.

O experiente evitou matar os piratas, deixando quase todos inconscientes e alguns incapazes de se levantar devido aos ossos quebrados. Com essa chance, absorveu metade do chakra de cada um, fortalecendo-se bem mais que o de costume. “Isso vai me servir”.

Ao descer em terra firme, o ancião apreciou o céu europeu. Embora ainda estive um pouco longe de anoitecer, o Sol não era bastante para aquecer a carne. Na realidade, era possível sentir frio com algumas brisas. Quando anoitecesse, seria preciso montar uma fogueira se pretendesse continuar por ali. Porém, Cartaphilus tinha outro intuito ao ir ali.

Distante da praia onde desceu, a quimera foi cercada por uma dúzia, ou talvez mais, de ghouls. Metade deles já estavam com suas kagunes prontas para serem usadas. No entanto, somente um avançou na direção de Cartaphilus, acreditando que era o bastante para matá-lo. Aquele engano o levou a morte. Desviando da kagune, o mais velho ali teve a chance de penetrar o peito do ghoul com sua mão e o fez.

— Tolos — disse a quimera enquanto segurava o coração de sua vítima que agora estava caída no chão. Os outros ghouls berraram enquanto corriam para vingar o irmão.

info 1. Roupas.  ▲

Deixar as muralhas era algo totalmente imprudente, e não recomendado para membros da realeza e nobreza. Afinal, os mesmos ficavam no centro do Império, distantes de toda desgraça que o mundo havia se tornado. Mas isso não significava que Diana seguiria à risca tais aconselhamentos, e permaneceria até o último dia de sua vida, presa entre seu palácio, e o palácio do Imperador. Por mais que ela levasse a sério todas as suas responsabilidades com seu lar, todo mês tirava um dia especifico para desaparecer perante seus compatriotas.

Utilizando de sua invisibilidade, e intangibilidade, a fada sombria então alçou voo. Atravessou Amélie, Rhyes e Larys, as muralhas, em uma velocidade consideravelmente alta. Na trajetória que percorreu, partindo de sua casa, pôde encontrar com rostos conhecidos no caminho, até mesmo presenciou cenas que jamais esqueceria, como o seu Imperador praticando coito com um casal de plebeus.  


— Você não está velho para isso, Cartaphilus? — questionou Diana, chegando ao ‘’campo de batalha’’. Muitos ghouls estavam presentes, e o seu antigo amigo parecia estar se divertindo com eles.  

Apesar da repulsa que a donzela havia desenvolvido em questão de violência, considerando sua individualidade e traumas que acarretaram em sua infância, presenciar toda aquela ação, depois de décadas agindo politicamente correto, a adrenalina percorreu suas veias. Ninguém de extrema importância estava ali, então, ela poderia demonstrar sua capacidade máxima, sem receio de ferir inocentes.

No momento em que seus pés tocaram no chão, anulou a invisibilidade. Diferente de suas vestimentas usadas no Império, como longos vestidos, algo puxado para a moda vitoriana, agora ela estava visualmente irreconhecível; no lugar de muito tecido, havia somente faixas cobrindo suas partes íntimas, como seios e vagina; o cabelo, outrora permanecendo solto, estava preso com um rabo de cavalo; os pés, totalmente desprovidos de calçados.  

— Carta, tape os ouvidos — ordenou a banshee, sabendo que não faria muita diferença se ele o fizesse ou não, mas saberia que em situação de perigo, o mesmo encontraria refúgio. Em questão de segundos, lançou um grito à sua frente, potente o suficiente para que um grupo de 4 ghouls virasse geleia ao explodir. A intensidade daquele grito foi tão gigantesca, que Diana fora jogada alguns centímetros para trás.  

Seguidamente, iniciou seu cântico de invocação, um som melancólico, alto e agudo, mas não tão forte ao ponto de perturbar quem o ouvisse. Sabendo que não precisaria se conter, trouxe o máximo de mortos-vivos ao local, eram dos mais diferenciados tipos de invocações — um exército de lacaios. No entanto, por serem muitos, ela não seria capaz de controlá-los; eles, por mais que quase acéfalos, vagariam em busca de caos e destruição.  

— Eu sempre quis fazer isso! — alegou Diana, entusiasmada com a situação, enquanto apenas observava de longe o seu exército exterminando com a maioria dos ghouls.

Depois eu mudo▲

Os ghouls faziam uso de suas kagunes afiadas para cortar suas vítimas e oponentes, no entanto, Cartaphilus fazia uso de nada além das suas mãos nuas e seus olhos. Apesar dessa diferença entre eles, a quimera recuava nem um passo sequer. Seus movimentos só não podiam ser comparados a uma espécie de dança por serem muito rápidos e trazerem sangue daqueles que assistiam. Até mesmo seus pés estavam molhados pelo fluído dos monstros.

— Imprestáveis — avaliou as criaturas enquanto desviava de seus golpes. A quimera mascarada conseguia acompanhar cada movimento, até dos mais ágeis. Nenhum dos ghouls tinha a metade da experiência que o outro carregava consigo ao longo de seus anos. Era até mesmo possível que tivesse matado os avós deles anos antes.

“Podia aparecer um mais forte entre eles”, enquanto pensava no nível de seus oponentes, Cartaphilus notou a aproximação de uma figura invisível para olhos mortais. Embora estivesse a centenas de metros de distância, conseguiu reconhecer em um instante, deixando um sorriso escapar, apesar da máscara ainda manter sua reação oculta.

Quando a figura invisível pousou no meio da batalha, somente o mascarado tinha ideia de sua presença ali. Então permaneceu perfurando barrigas com seus dedos, chutando cabeças para longe de seus corpos e batendo em ghouls com outros ghouls em suas mãos. Uma verdadeira chacina, como ele gostava. No entanto, a invisibilidade foi desfeita e surgiu uma mulher conhecida de Cartaphilus, Diana.

Com um grande salto para trás, o mascarado se afastou do centro onde a outra quimera estava. Ele tapou os ouvidos, salvando seus tímpanos do ataque sonoro que a banshee utilizou. Muitos dos ghouls pereceram e os outros ficaram atordoados. Essa era a oportunidade perfeita para acabar com todos eles de uma só vez, mas, como Diana era bem excêntrica para a idade, fez uso de mais um dos seus poderes: o dom de invocar os mortos.

— Espero que você se encarregue de enterrá-los de volta quando acabarmos, Diana — comentou enquanto saltava por cima dos monstros. Cartaphilus estava animado com aquilo, ainda mais por ter alguém com quem dividir o momento. Mais um dia usado para se vingar das criaturas que comeram seus antigos companheiros. — O que te trouxe até aqui? — perguntou ao mesmo tempo que esmagava a cabeça de um ghoul e chutava outro na direção de Diana para provocá-la e chamar atenção.

info 1. Roupas.  ▲