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Dias de folga eram difíceis de se ter, mas sempre que vinham, eu os aproveitava com gosto. Eu amava muito o meu trabalho, vide que Agnes não era apenas mais uma chefe, ela também era uma amiga que me estendera a mão em um momento bastante difícil da minha vida, quando meu pai não mais existia e minha mãe se tornara mentalmente instável, necessitando de cuidados. Eu devia muito à minha patroa e, por isso, eu era eternamente agradecido por sua ajuda. Sendo assim, o trabalho acabava se tornava algo quase divertido, não me sendo exaustivo nem nada – às vezes haviam clientes insuportáveis e brigas, mas que bar não tinha isso, não é?

Naquele dia, decidi ir à feira de Kaleo, onde comprei legumes e frutas, decidindo que iria fazer um ótimo jantar para meu irmão Blake, se é que ele fosse mesmo permanecer na minha casa depois da nossa noite juntos. Aquilo ainda martelava a minha cabeça, principalmente depois de passarmos anos nos evitando para somente nos reencontrarmos para transar e depois cada um ir para o seu quarto. Era estranho, mas eu não conseguia ver erro numa relação nova como aquela que acabamos desenvolvendo. Digo, era uma das regras do Império, não era? "Não há regras que limitem vossos desejos carnais", então isso deveria se aplicar a meu irmão e eu. De qualquer forma, não era como se fôssemos quebrar regra alguma.

Em meio ao comércio, eis que me deparo com Dean Harvery: conhecia-o há anos, sendo um vizinho meu e um dos primeiros a me cumprimentar assim que me mudei. Estendi a mão para o rapaz, apertando-a e sorrindo para o mesmo. Era muito bom vê-lo depois de tanto tempo.

— Olá, Sr. Harvery, quanto tempo? Mal nos vemos, provavelmente nossos trabalhos estão consumindo o nosso tempo, não é? — comentei, voltando-me para a vendedora e a pagando, pegando meus limões para a torta que faria depois. — Como está? E o seu irmão? Aliás, como estão os negócios? O que você vende mesmo? Acho que era tabaco, ou algo assim... desculpa não me lembrar direito, minha memória é péssima. — Eu realmente não me recordava do seu trabalho, porém tinha certeza de que ele era vendedor e tinha seu próprio negócio com o irmão.

Era um belo dia aquele, o sol queimava acima de nós e o céu estava azul, com parcas nuvens. O clima era agradável e eu não sabia ainda como convidar de forma gentil e respeitosa que Dean fosse até a minha casa comer uma torta.

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Armas. A lembrança daquele tipo de mercadoria que os Harvery vendiam fez-me suspirar e enrijecer meu corpo, pensando no quão perigoso deveria ser para eles trabalhando naquele tipo de coisa. Por que não um negócio honesto? Parecia que a maioria das pessoas simplesmente queria criar o máximo o possível de estrago na vida dos outros, o que acabava consequentemente destruindo a sua própria vida. O contato íntimo foi alarmante, pois tinha receio de começar a pegar fogo e matar Dean, porém surpreendentemente consegui ficar calmo e então deixei ser guiado pelo loiro.

Ele comentava sobre seus negócios não estarem bem e aquilo me deixa taciturno. Isso significava que as pessoas tinham pouco interesse em comprar armas para se defender ou que elas tinham alguma outra loja para comprarem armamentos? Aquilo foi como um soco no estômago, pois me peguei imaginando várias pessoas comprando armas para matarem uns aos outros. Por que não poderíamos simplesmente termos um pouco de paz? Era pedir demais vivermos numa sociedade pacífica? Parecia que tudo se encaminhava para uma nova guerra, onde seríamos quem sabe varridos para sempre da face desta terra.

— Eu sinto muito, Dean, mas isso é bom, não é? Digo, se não estão se preocupando em comprar armas deve ser porque não há mais tanto perigo. Pelo menos aqui em Kaleo tudo anda tranquilo. — Comentei, ainda com seu braço em torno de meu pescoço e toda aquela intimidade forçada. Não me afastei dele, apenas permaneci fitando-o perto de mim.

Perguntava-me como ele havia ido parar naquela vida, vendendo armas. Sua criação havia dado errado ou alguma coisa aconteceu na sua vida que o fizesse se voltar para o caminho do crime?

— Eu ando bem, tudo tranquilo, na verdade. Só trabalhando no bar e tendo de lidar com pessoas irritantes e bêbadas, mas tirando isso, eu estou ótimo. — Dei de ombros, ainda segurando a minha cesta de frutas e legumes, afastado do centro da feira para que pudesse conversar tranquilamente sobre as atividades ilícitas de meu conhecido.