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Com uma calma característica minha, limpava copo por copo com tranquilidade, meus olhos fixos em meu serviço. Estava na cozinha já se faziam quarenta minutos, exercendo uma de minhas muitas funções como funcionário daquele bar. Por vezes, sentia-me um pouco sem propósito ali, mas não era culpa do trabalho, mas sim de minha vida como um todo. Eu estava empregado ali faziam-se anos, entretanto eu sentia que algo faltava: um objetivo, para ser mais exato. Minha vida era monótona, meu coração queimava como uma flama ardente e eu por vezes chorava comigo mesmo, tentando encontrar algo naquela jornada tão torturante.

Lembrava-me de meu pai, de como foi horrível perdê-lo, para logo em seguida perder também o meu irmão, que decidira abandonar-me com nossa mãe ainda chorando a morte de seu esposo. Ele se uniu à mesma tropa que fez com que nosso pai fosse morto, deixando-me sozinho e sem um rumo. Tal abandono nunca foi superado, e eu talvez nunca conseguisse ter a bondade necessária para perdoá-lo. Aliás, gentileza é algo que não se vê por aqui. Recordo-me de como meu progenitor falava sobre como queria ver a pobreza ser erradicada das ruas de El Diablo, como ele lutava para limpar o mundo dos monstros para que fôssemos livres, não apenas tendo de ser limitado a Weingarten e suas muralhas. Era um sonho que ele julgava possível, mas que na prática, nunca chegaria a acontecer de fato.

— Kraven, hei, pode ir me ajudar no balcão? Temos muitos clientes hoje. — Pediu Agnes, a dona do estabelecimento, fazendo-me sorrir introvertido e assentir, limitando-me a apenas isso.

Servindo a cada um dos homens ali, sejam eles soldados comemorando uma folga ou uma missão bem executada, ou apenas bêbados comuns enchendo a cara, eis que noto uma figura esfíngica esgueirando-se pelo bar, trombando mais do que comum nos homens. Achei estranho, pois eu trabalhava faziam anos num bar e sabia diferenciar um bêbado de um sóbrio e, definitivamente aquele rapaz não estava chapado. Prestando um pouco mais de atenção, deixei que o copo que eu enchia para um cliente esborrasse de vodca enquanto observava o ladrão, pegando carteiras e moedas de ouro dos bolsos alheios com uma mão leve que me deixou impressionado.

— Ei, presta atenção! — vociferou o cliente, fazendo-me prestar a atenção nele mais uma vez e pedir desculpas, entregando um pano para que ele se virasse e limpasse sozinho o balcão.

— Já volto.

Saindo pela saída lateral do balcão, saí pedindo licença e evadindo dentre os homens dali, logo saindo pelos fundos seguindo o gatuno furtivo, encontrando-o no beco, vasculhando as carteiras e recolhendo as moedas de ouro com um largo sorriso na face. Cruzando os braços, pigarreei e estreitei os olhos, chamando-lhe a atenção.

— Acho que pegou algumas coisas que não lhe pertencem, Sr. Trapaceiro. Não quer me devolver essas carteiras para que eu possa devolvê-las aos homens que acabou de roubar? — questionei-o, descendo os degraus e fechando a porta atrás de mim. Eu podia resolver aquilo por mim mesmo, sem a ajuda de mais ninguém, afinal ele deveria ser apenas mais um ladrão comum, se bem que ele poderia ter poderes realmente complicados e difíceis de serem enfrentados. — Olha, se estiver passando fome, tem um centro comunitário aqui em Kaleo, na rua Lee, só seguir reto, moço. Se quiser posso te servir alguma comida, mas só peço que não roube. — Pedi gentilmente, estendendo a mão direita para que ele devolvesse o seu furto.

Não sabia pelo que o rapaz havia passado, nem suas dificuldades, mas eu tinha um trabalho e os furtos prejudicariam o bar. Claro, se ele realmente estivesse passando por problemas eu ficaria mais do que feliz em ajudá-lo a encontrar um abrigo, com cobertores quentes e comida, para onde iam alguns sem-teto de Kaleo.