História é muito chato quando se estuda por obrigação de professores querendo ensinar algum ponto específico de algum evento, ou mostrar como poderíamos fazer algo totalmente ruim por um motivo fraco no início. Deixando não ser revelado ao ponto de conseguir outro ideal para espalhar, conseguir força dos outros somadas a sua própria, desenvolvendo algo maior e mais poderoso conseguindo mais chances de sucesso seja lá qual a sua vontade. Isso me deixava meio receoso cada dia que se passava como se eu ainda fosse uma criança boba num corpo crescido e com todo aquele poder acessível de um mínimo impulso.

Gostava de saber aos poucos da história do meu pai naquela tropa, contudo não mais haviam colegas dele ali presentes, deixando tudo para boatos e histórias que repassaram para os mais velhos ali presentes. Cada missão me fazia parecer mais distante daquele objetivo de saber a verdade daquele fato, não conseguia acreditar que toda uma equipe condenou meu pai, por mais que fossem outros tempos. Ainda lembrava do imperador poucos anos atrás ainda vivo e todo aquele ar que a igreja o transformava em quase um deus.  

As histórias do meu pai sobre aquele imperador que criou o império, todas as ideias dele que fizeram aquele lugar como um sonho que ele imaginava e tornou real para proteger não apenas a si mesmo e sua família, como todas aquelas pessoas dentro das muralhas. Isso me deixava puto como uma coceira arranhando cada vez mais as lembranças do meu pai falando animado da tropa “Eles são impressionantes, mas nenhum é capaz de lutar sozinho. Eles acreditam em seus companheiros e superam situações de vida e morte juntos.”  

Já havia visto algumas versões assustadoras do Éliphas, Valentim e do Kohte, mas mesmo vendo o pior em combate deles não conseguia ver esse tipo de ideal de equipe ser quebrado. Algo entre a equipe do meu pai parecia errada e eu não conseguia descobrir o que. O auxiliar do refeitório lembrara de mim de cara, realmente lembrava meu pai mesmo sem as chamas e talvez por isso quem realmente podia me ajudar se mantinha afastado de mim, ou inacessível para me fornecer as informações que queria. Isso não era um bom pensamento, mas me deixava mais tranquilo do que pensar que estava na tropa sem conseguir ir atrás da minha vingança de verdade.

Não conseguir matar podia me culpar por ser fraco, mas não ter pistas e as informações para seguir os objetivos era uma encruzilhada sem caminhos para seguir como opções. Eu só tinha histórias, perguntas de alguns guardas mais velhos e boatos sobre a equipe dele desmantelada depois da morte como se ele tivesse sido um tipo de cola para manter todos juntos. Isso era vago pra mim até que um dos encarregados de avaliar novatos me encontrou na arena de treinamento voltando do refeitório e me pediu pra encontrar com ele mais tarde.  

Eu era da tropa, ele da guarda e mais velho, não tinha muito sentido ele querer falar comigo, talvez poderia ter lembrado de algo do meu pai, mas dificilmente seria algo realmente que ele já não tivesse mencionado. Nem preciso dizer que estava com a cabeça longe apanhando feio do capitão Éli e nem estávamos lutando a sério com poderes. Ele me mandou descansar um pouco na enfermaria pra recobrar o foco, não tinha sequer como explicar onde minha mente estava, meu estômago parecia revirado esperando o tal encontro.

Na enfermaria sendo recepcionado com certa pressa, limpando o corte acima da sobrancelha esquerda e uma ferida perto da boca talvez de um soco. Lembro dos impactos no rosto, mas entre a minha mente e o tombo no chão não sei dizer exatamente qual soco fez qual ferida. Aqueles quadradinhos de panos limpando minhas feridas e cada incomodo colocando minha mente no lugar como pudesse recobrar lembranças através da dor. Afastando o nervosismo do encontro e então aquele curto período do Capitão me chamando, eu ficando em posição de combate e como um flash só sentindo um soco de direita, outro de esquerda e um último de direita que me desacordou um pouco.

Ficando com os curativos no rosto e as feridas limpas, a mulher me liberou com um pirulito por ser um bom menino. Olhei pro lado como que procurando alguém considerando aquilo uma brincadeira, na ausência de provas de uma brincadeira ridícula, aceitei o pirulito e ouvindo “Seja um bom menino.” enquanto me afastava dali. Eu era jovem sim, mas me senti novamente com dez com meu pai morto e não querendo acreditar naquilo, brigando na escola e provocando brigas bobas que acaba perdendo.

Ficando menos perdido em pensamentos, indo até o local de encontro e já avistando o mesmo na espera da minha presença. Cumprimentei o mesmo e ele foi logo avisando que estava muito empolgado com aquilo. Que não seja com um poder novo dele. Ele sorriu e como se estivesse em câmera lenta, ouvindo-o dizer: - Encontrei um dos membros da equipe do seu pai. - Minha mente ficou branca, não esperava algo como aquilo e meu corpo reagiu antes de processar a informação, puxando o outro pela roupa girando nossos corpos e o empurrando na parede.

Ele levantou as mãos assustado e avisou: - Ei Blake, calma. Eu vim te contar. - Minha mente voltou a pensar aos poucos ainda, soltando ele um pouco desconcertado e pedi desculpas. Ele passou a mão no meu ombro, percebi que ficava difícil ainda não tendo crescido em tantos anos ali e mal alcançar meus ombros. Talvez por isso não tenha conseguido uma evolução boa ali dentro na sua juventude, considerando pessoas como os colegas do meu pai controlando as promoções hierárquicas. Ele se ajeitou um pouco dada a minha brutalidade momentânea e enfim começou: - Ele foi visto em El Diablo nos bares sujos de lá, causando algumas confusões.

Me dando nome e algo sobre a fama de combate do mesmo, não me impressionava de verdade, agradecendo então e me afastando dele voltando pro dormitório pensando em como sair dali com algo melhor do que “Preciso vingar meu pai”. Escolhendo armas menores sendo plausíveis de uma folga, mas não estando desarmado totalmente, desconhecia as habilidades do outro, então contava mais com a sorte do que com armas realmente. Uma espada pequena, não chamando tanta atenção e ideal para combates de curta distância. Depois de chegar no dormitório e escolher a arma em menos de cinco minutos, fiquei bolando as desculpas para os guardas.

Citar uma ordem poderia os fazer usar o rádio, falar de influência acarretaria em questionamento a superiores, indiretamente o mesmo problema. Fiquei encarando o espelho e meu rosto suando com aquele desespero impregnando o ambiente mais que o meu suor me fez perceber uma oportunidade. Primeiramente de ir tomar um banho para dormir e de que precisava transar, ou pelo menos era essa a ideia a ideia mais ridícula e compreensível independente dos gostos dos guardas. Eles tinham de acreditar na minha desculpa e não querendo fazer eles confirmar com os superiores deles, ou os meus, tinha de tentar a empatia.

Logo de banho tomado tratei de dormir mais rápido que na infância com as ameaças de minha mãe, acho que até ela se me visse agora estaria surpresa com tal fato. Dormindo o quanto antes, rolando na cama com sonhos do meu pai, acordando uma vez pra abrir a janela com medo de absorver o ar todo dali com o fogo no meu corpo e tentando novamente voltar para os sonhos. Não se era o momento que levantei pela janela, ou a minha mente que não me permitiu sentir melhor o sono, mas acordei como se não tivesse realmente dormido.  

Acordando com a rotina de banho e roupas leves da tropa, com apenas duas espadas curtas nas bainhas, sem pistolas, ou algo maior, apenas proteção pessoal em último caso. Não queria causar problemas em El Diablo, mantinha essa ideia em mente, comendo um pouco no refeitório como qualquer manhã e pedindo uma folga para Éliphas pra sair e me “aliviar” fora da base um pouco. Ele via como eu estava ontem no treino, contava com ao menos a permissão dele da folga, não podia me sujar com ele pela vingança, ainda havia mais deles para matar.

Não me contrariando e deixando que eu me divertisse um pouco para recobrar o foco na tropa, um dia fora dali não ia fazer mal realmente. Ele não estava errado, pelo menos não com o que ele sabia. Saindo depois do café, dando exatamente a desculpa da folga para os guardas daquele lado da muralha. Sorri tentando ser simpático e mostrar um pouco de cansado com uma passada de mão no ombro esquerdo: - Acabei de voltar de expedição recentemente e o capitão Éliphas me deixou de folga hoje. Preciso transar logo e tirar esse fogo dentro de mim, não consigo ficar na mão ali dentro se é que me entende. Não custa tanto assim ter uma carne nova no colo, mãos habilidosas e uma boca quente pra me satisfazer.

Os guardas da base se entreolharam mais vermelhos que outras partes que temos no corpo cobertas de pano. Engoli em seco respirando afobado e agradeci a ele como uma criança indo ao parque, perto de poder ir brincar. Então podendo chegar mais perto do objetivo, faltando apenas uma parte de dificuldade sobre guardas, os de El Diablo. Nem podendo falar muito logo que me aproximei, tratando de me revistar com o outro de olho em mim tendo certeza de não esconder nada, ou carregar algo escondido.  

Neguei com a cabeça a maioria das perguntas e o respondendo quase tudo junto: - Não vim vender nada, comprar nada e nem fazer nenhum tipo de mercado ilegal. Sou da tropa e acabei de voltar de uma expedição, só queria ter uma pessoa de verdade ao invés da minha mão. - O que me olhava desde o começo confirmou com a cabeça aceitando o que falava e então indicou com o queixo questionando sobre as armas. Suspirei um pouco me acalmando com as mãos apertando minha bunda e o respondi: - Minhas habilidades são muito destrutivas, meu capitão insiste em eu sair armado assim para fora da base evitando que eu use meus poderes e machuque inocentes.

Balancei com a cabeça em negação e novamente sentindo um frio na barriga com a passada de mão nas minhas coxas na parte da frente. Olhei novamente para o guarda questionador: - Não quero machucar ninguém, só uso em último caso e quero ir nos bordeis. Sem outros destinos e nenhum problema da minha parte. - O revistador se ergueu constatando que estava limpo e indicou que estava excitado, mas sem outras coisas. Dei de ombros com as mãos levantadas questionando: - Passando a mão pelo meu corpo, eu estou querendo mesmo aliviar com alguém. - O guarda não pareceu duvidar e conversando entre si mais afastados de mim deixaram tudo mais misterioso.

Deixando-me perdido com a falta de resposta um pouco até que me chamassem e então a resposta de me deixarem entrar enfim. Passando novamente por portões com outro ambiente envolta e seguindo o caminho para algumas tavernas mais sujas que não tinham como recusar clientes, além de ficarem quase nunca fechadas. Contava com uma bebedeira constante do alvo, mas se ele criava confusões, poderia significar uma falta de limites com o quanto se bebe durante o dia.

Não desconhecendo totalmente o lugar, mas nem perto de ser um ambiente comum, com conhecidos, ou sabendo ir e vir de diferentes pontos mais afastados em meio a atalhos. Como que reunindo as informações em mente que tinha das visitas anteriores, considerando uma visita acompanhada de um colega pervertido e uma outra vez que utilizei da mesma desculpa sobre necessidades físicas. Tinha as armas passado das duas revistas de muralhas, considerava um trabalho mediano modéstia parte de conseguir uma chance, não classificando o potencial dela e desmerecer o valor bruto de ter uma oportunidade de não usar as chamas.

Minhas próprias palavras sobre ter poderes destrutivos não eram mentiras, apesar do interesse real escondido, contava com a veracidade de boa parte do meu cotidiano e a visita ser semelhante entre outras que fiz. Em momentos diferentes e com todo o clima realmente com um ar novo, as pessoas pareciam sempre as mesmas, os vendedores de inutilidades que eram ignorados, os jogos manipulados nos cantos e os mendigos tentando o pouco de quem passasse por perto deles. Nada de novo ali perto, as coisas sequer pareciam novas, ou alteradas desde o outro dia.

A situação de estar um clima constante, mesmo que ruim parecia boa a princípio pela falta de surpresas, comparando vagamente com o ambiente externo dali. Podendo encontrar diversos monstros, grupos caçando que encontravam quimeras como potenciais alimentos aparentemente mais fracos que os outros no ambiente. Como se tivessem me tirado de um sonho, senti mãos no meu ombro com um comentário safado afastando toda a minha imaginação para com as muralhas e voltando a lembrar do propósito de estar ali: caçando alguém, mas mentindo querer transar.

Sorri com todo aquele contato que a mesma me proporcionava como uma prévia do que poderia acontecer dentro de um quarto sozinhos, mas lembrando da ideia original e de que poucos minutos antes estava duro por qualquer o mesmo motivo tentei focar no objetivo. Suspirando como se agradecesse aquela interrupção, voltando a pousar minhas mãos nos cabos das armas sorrindo e neguei com a cabeça: - Não precisa de tanto senhor. - Confirmei com a cabeça agradecendo: - Obrigado pelo elogio madame, mas hoje não.

Repensaria nisso depois, ela não parecia alguém ruim, mas se havia um bêbado em seu encalço conseguir algo dela não deveria ser fácil seja o serviço que ela oferecia, ou alguma informação específica do meu objetivo ali. Passando um pouco do comum de conversa, coisas quebrando me tirou a atenção deles como as mãos da mulher fizera antes, parecia que as coisas me levavam para o meu destino oferecendo oportunidades até que chegasse à escolha certa. Não sabia o que poderia conseguir pela madame, mas duvidava que fosse mais promissor que os barulhos. Quer dizer, pelo menos com a caçada em mente.  

Aquele controlador passando as mãos pela mulher não me pareciam estranhos apesar de não ser exatamente um cafetão por estar bêbado. A ideia seria que tinham algum relacionamento e por tabela provavelmente ele acompanhava os clientes da mesma, além de com certeza atrapalhar o serviço caso a mesma se excitasse mais do que com ele próprio que não devia ser difícil. Não escolheria um caminho duvidoso e turbulento por eles, preferindo seguir atrás do barulho, podendo encontrar o alvo, ou algum conhecido que me levasse a ele.

O local era mais bem organizado que alguns outros naquele ambiente perto do rio, não tendo necessariamente um tipo de clientela. Não diversificava tanto com outros tipos de pessoas, mas já dava para reconhecer certos tipos, como o fundo para negociadores do mercado ilegal. As mesas limpas e o local com chão de madeira ressoando com um barulho não tão irritante em meio ao círculo de conversas misturadas. Entrando naquele clima tentando absorver todo o ar presente e o que acontecia ali, desde o balcão como objetivo no fundo e as mesas mais afastadas com um tipo de confusão se iniciando.

Uma briga já acontecia naquela mesa, parecia realmente interessante me deixando quase curioso de saber se “ele” estaria ali, mas dificilmente seria assim fácil. Mal entrei no lugar e já tinha uma briga com o alvo. Não poderia chamar de sorte, talvez azar considerando que poderia ser pego no fogo cruzado, ao invés de tentar encerrar com a vida dele. A coisa foi ficando séria com mais que palavras em volumes maiores, chutes e tapas chegando quase a tornar as habilidades como ferramentas daquela discussão até que a mulher no balcão chamou a atenção deles.

Arqueei as sobrancelhas vendo o efeito que a mulher tinha, ficando então apoiada pondo algum tipo de respeito. Roubando minha atenção de expectador com a proximidade do balcão, uma das garçonetes me cumprimentou e me questionou sobre uma mesa. Sorri confirmando com a cabeça a saudação e negando com a cabeça: - Sou apenas eu, não se incomode que não estou esperando ninguém. - Seguinto então para uma mesa vaga perto do balcão com uma vista com as mesas ao fundo e o caminho de entrada do local.

Não sabia se a mulher conseguiria evitar qualquer briga ali dentro, mas contando com o que falam de mim sobre lembrar meu pai, um mínimo de reação do desconhecido seria bom. Na sinceridade queria outro tipo de reação, mesmo desconhecendo o potencial de combate dele, mas não evitaria de pegar ele, mesmo que fosse de surpresa. A garçonete me perguntou sobre o que queria e pedi uma cerveja média com uma porção de fritas, por enquanto seria apenas aquilo. Ela se afastou de mim e uma mulher de uma das mesas próximas se levantou para a mesa ao meu lado questionando-me sobre uma “diversão”.  

Minha boca estava seca com a normalidade do ambiente em se manter sem confusões maiores, além do que ouvira do lado de fora. Me virando para a mulher para lhe responder que não até que ouvi um tom maior de tossida e senti uma vibração na mesa que eu estava. Voltando minha atenção para frente e havia um homem mais encorpado que empurrou a mesa para se sentar comigo, levantando meus braços para não ficar tremendo com ele se ajustando ali. Ele olhou esperando minha resposta, neguei com a cabeça e logo a mulher se afastou de mim sem eu falar mais nada: - Não vim atrás de mulheres e nem precisa chamar algum dos rapazes, não vim por sexo e não quero atrapalhar o seu... expediente.

Ainda ficou me encarando um pouco, me permitindo notar a barba com falhas de cicatrizes, seu cabelo não exatamente “cuidado”, mas longe de ser feio, estava mal cortado. Aquela maior quantidade apenas em metade da parte de cima e toda aquela roupa estranha com manchas e pelo, longe de ser bonito e confortável, devia incomodar bastante no pescoço enquanto andava. A garçonete chegou e o homem se apressou para sair dali antes que a jovem colocasse as coisas na mesa. Me olhando sem graça: - Você não veio acompanhado, não quer nenhum dos serviços dele. Seja o que for que veio fazer saiba que a Martha não vai permitir qualquer briga, ou problemas aqui dentro.

Sorri com as palavras dela enquanto ela colocava a caneca e a porção na minha frente. Confirmei com a cabeça seu aviso e a olhei nos olhos: - Não quero causar problema algum. - Ela semicerrou os olhos me avaliando um pouco: - É bom mesmo. - Como se tivesse possuída por alguma coisa, ela suavizou o rosto novamente com aquele sorriso educado e me desejou bom apetite. Me permitindo comer um pouco enquanto bebia um pouco da cerveja, era fraca, mas realmente querer algo forte com tanta variedade de problemas para acontecer era perigoso. Não pretendia aparecer ali à toa, nem me prolongar muito ali, seria mais uma tocaia com o ambiente perigoso, uma hora ele apareceria e poderia chamar mais atenção que os outros ali jogando.  

Provavelmente a garçonete já tinha suas “armas” caso houvesse problemas diretamente no atendimento com elas, considerando que aquela mais velha fez pouco para ter atenção do grupo mais cedo. Elas com certeza não deveriam ser simples garçonetes bonitas e vendo a mesma entrar na cozinha já imaginei alguma repercussão para aquela senhora me deixando curioso com o que veria a seguir. A cerveja gelada e as batatas me ocupando a boca da mania de resmungar, ou de contradizer pensamentos em voz baixa, ficando como que um espectador daquele movimento interno do estabelecimento.

Não pretendia fazer nada ali dentro, ainda não vi ninguém chamando atenção como esperava, então poderia ter chegado cedo, ou passado entre umas das “rondas” dele pelos bares de El Diablo. Certeza que essa última opção não me agradava nada, pois mesmo que não pudesse encontrar ele na primeira tentativa, não teria dinheiro pra ir de bar em bar por todo distrito atrás dele. Grandes chances de confundir com apenas outro bêbado causando confusão. Cada batata que eu levava à boca imaginava como um corpo que minhas chamas engoliam carbonizando as pessoas depois do meu descontrole contra o alvo.

Voltando minha atenção para o barulho da porta da cozinha, acompanhando a “novidade” no ambiente da garçonete estranha com uma bandeja de cervejas para a mesa dos fundos. Uma troca de comentários como fora comigo, mas dessa vez o homem me fuzilou em seguida já sentindo aquele impulso coçando minha nuca e o arrepio na espinha de estar precipitado. Saindo de perto de eles ainda com aquela sensação do olhar em mim, mas vindo até a minha mesa e jogar um recado no guardanapo. Semicerrei os olhos com o seu comentário “me agradeça depois”, não fazia sentido e acompanhar ela voltando a trabalhar passando nas outras mesas indicara que não ia voltar para esclarecer.

Pegando o pedaço de papel e o lendo atrás da porção, não fazia sentido saberem quem eu queria, talvez quem eu era e isso talvez sendo possível porque aquele cara havia me olhado daquele modo. Engoli em seco e ocupei minha boca com cerveja, tratando de terminar aquilo de uma vez, não ia sair tropeçando dali com uma caneca, e com certeza não pretendia ser atrapalhado por beber. Certamente se considerava um problema teria escolhido ficar de tocaia ao invés de me fazer de cliente. Repetindo a leitura do papel respirando fundo com as três últimas palavras, provavelmente sendo a reação daquele grandão comigo tendo algum tipo de provocação.

Não seria nada bom uma confusão desnecessária e sem razão hoje, mas isso eu iria lidar se e quando acontecesse. Desnecessário me estressar com algo assim incerto e sem certeza do desconhecido. Guardando o papel no bolso e me erguendo da mesa indo para os fundos, lembrando do local quando entrei ali pela porta de saída dali provavelmente por onde jogavam o lixo. Aquilo emanava armadilha da primeira até a última palavra, não jogava um biscoito para um tubarão, era como fechar monstros em uma jaula, quem voltaria ainda lidaria com o cão de caça como “vitória”.

Seja mentira, ou não, não poderia ficar ali com a atendente sabendo que tinha um objetivo ali além do que o local oferecia no cotidiano. Prevendo brigas e confusão, querendo afastar aquilo do estabelecimento, me tirar dali mesmo sem pagar fazia quase sentido me atentando com a retaguarda para sair do local e preparado para olhar nos olhos dele. Pretendia ouvir da boca dele antes de fazer qualquer coisa, era uma assinatura confirmando o ato, não deveria só matar por saber os nomes como um mercenário qualquer.

Saindo pelos fundos não precisei de procurar muito para achar quem eu queria, era como um fantasma do natal futuro que esqueceu que era para me assombrar. Essa ideia me deixou curioso com a reação dele para mim, já que ele estava com a cara em uma lixeira focado provavelmente em vomitar depois de beber além da conta. Semicerrei os olhos avaliando o mesmo, era alto, musculoso com certeza me dando trabalho em uma luta corporal, precisaria ser ágil se fosse atacá-lo, ou poderia dar chance e não ter oportunidade de revanche.

Ele me notara e então a dúvida de quem ia assustar quem foi respondida pela reação dele, podendo me fazer rir se eu soubesse que isso iria acontecer dessa forma. Ele ficou assustado de me ver, provavelmente Kraven e alguns outros mais velhos da tropa e eu me parecia muito com meu pai. Senti minha mão coçando para queimar aquele beco inteiro num estalar de dedos, mas a fala dele me congelou até a pulga capetinha no ouvido. Sorri descendo os degraus da porta dos fundos e me aproximei dois passos dele: - Não meu querido, você não me matou. Você falhou miseravelmente e o preço disso é a verdade.

Meu sorriso sumiu e levantei a mão olhando em seus olhos arregalando um pouco como se fosse fazer alguma coisa. Sorri e abaixei a mão: - Achou que fosse te queimar assim bêbado? Não seja ingênuo, eu não posso te ferir assim. Eu quero quem te pagou. - Arqueei as sobrancelhas um pouco como um desafio sútil. Eu não sabia como meu pai era com os amigos, ou com outros na tropa, mas ele era feliz e gostava de brincar. Acreditava que se ele voltasse como espírito para um de seus assassinos ele com certeza viria assim e agiria com uma ameaça no início. Indo contra a ideia original de matar ele, precisava de informação antes de realizar qualquer coisa mais séria. Sequer havia chegado no assunto, mesmo bêbado ele poderia ter alguma coisa útil a revelar.

Efeito conquistado, o ruivo parecia mesmo atordoado comigo como se eu fosse mesmo meu pai. Esse fato com certeza me deixaria pensando antes de dormir mais do que a primeira vez que me falaram isso. Era como uma assombração me chamando de assombração. Não era uma ofensa, mas não era um elogio, dependendo muito de como eu levava o comentário em consideração. Ou seja: me sentia mais confuso. Parecia que não queria uma das partes presentes, a minha raiva, ou minha permanência na sua frente, tratando de falar comigo, ou ficaria ali assustando suas memórias adoráveis sobre meu pai.

Esse apoiando na parede do bar incrédulo na minha existência, e então “ele pediu para te envenenar” ainda ficava mais interessante, mas longe de ser grande coisa. Saber que ele fora envenenado não me levava a lugar nenhum, é uma circunstância de mais de dez anos, não seria fácil mesmo se ele me desse tudo. O beco foi ficando mais claro pela lua e o bêbado parecia ter visto um fantasma pior que a mim, me mandou ir embora e então o aviso sobre o bar. Cobras me reconhecer. Isso não era uma coisa boa, a lembrança da garota falando pro cara de mim, talvez até a mulher lá dentro tivesse algo relacionado.

Os olhos amarelos dele pareciam algum tipo de maldição, não era um poder de verdade, precisava sair dali. Por fora encontraria aquela dupla que não ia me levar a lugar nenhum, por dentro ele poderia me seguir então me esconder no bar com cobra não era a melhor ideia. A ideia original confundia muito para onde ir, não havia outro destino e uma fuga dali não seria perfeita com uma coisa podendo me rastrear. Se me rastrear era uma possibilidade, precisava do local com mais cheiro ali perto e isso era exatamente onde o bêbado disse para não ir: ninho de cobras.

Voltei alguns passos até a porta do bar, entrando indo novamente para a minha mesa de antes. Esperava que me seguisse, fazer um estrago onde havia um mínimo de chance de relação com a morte do meu pai merecia um dano. Não havia relação comigo, esperando que a transformação de olhos amarelos causasse caos suficiente para eu melhorar minha fuga dali sem ele tão perto do meu rastro.

Achei que me julgar era a pior coisa que poderia acontecer comigo, pois não tinha como falar com meu pai e minha mãe não estava mentalmente acessível como eu gostaria. Porém, passar da porta do bar voltando para dentro e então aquele comentário que eu mesmo já me julgava foi sufocante. De certo modo já estava sem muitas opções, reconhecia o risco de voltar ali pra dentro, mas era melhor que tentar lá fora com um monstro que poderia me rastrear provavelmente. Engoli em seco com a clara ideia de que estava em uma armadilha e que possivelmente não chegara tão longe quanto gostaria.

Uma porrada na minha cabeça, senti o impacto deixando minha visão estranha e meu corpo pareceu flutuar, ouvindo algo bater na porta e então tudo apagou assim que cheguei no chão. Não sei se era um efeito comum, acordei como se tivesse dormido intencionalmente, balancei a cabeça pro lado chiando baixo aquele incomodo na nuca. Minha boca parecia seca, mas saliva não ajudava, era uma sensação diferente de engasgo pela dor. Tomei consciência da minha incapacidade de verificar a ferida, percebendo as correntes no meu corpo como se eu fosse um presente na cadeira.

Ouvia a voz da mulher como um gosto de molho, sendo estranho descendo puro na garganta, não necessariamente intragável, mas muito estranho. Como uma ilusão, a voz chegando antes da visão dela se aproximar, me dando conta da clara armadilha que caí desde cedo e não cogitando tamanha merda que me meti. Olhei para cima como que procurando qualquer figura divina: “Se há uma chance de resetar o dia, essa hora é agora.” Não queria confiar nas histórias naqueles últimos segundos de vida engasgando com sangue.

Já tinha feito muita merda naquele dia, podia fazer um estrago com o que sabia e talvez mudar drasticamente aquele momento com outras chances. A garçonete revelando que conhecia o meu alvo, não esperava que eu voltasse e sequer ficasse vivo, claramente me fudi lindamente. Muito divertido, me deu de comer e beber antes de me matar, talvez mais consideração do que tiveram com meu pai. Tentei afastar meu rosto quando a garçonete ficou mais iluminada permitindo que eu visse sua forma escamosa. “Nossa, que diferença”

Revirei os olhos com a voz saindo das sombras, era mais grossa e uma sombra maior que a da garota verde. Suas palavras que deixavam várias dúvidas porque ele conhecia meu pai, teoricamente mandava na garota e os seus filhos não foram suficientes para acabar com minha família. A lembrança da minha mãe meio doidinha e meu irmão destrutivo passaram em mente da última vez que os vi. Eles não sabiam o que ia atrás deles e eu basicamente alertei que os rastreei. É claro que vão atrás dos outros. Eu fui burro de vir sozinho. Deveria tentar resolver isso antes que o dano se alastrasse.

Sem qualquer foco, ou visão clara de onde estava, não podia “queimar” simplesmente sem me importar com o que tivesse ao redor e em cima. Tentei me transformar em fumaça, passando pelas correntes e a cadeira, ficando através dela e com sorte sair dali sem combate. Bom, pelo menos sem combate naquele local fechado escuro que provavelmente tinha outras armadilhas para mim. Se os bebes dele não fizeram o serviço, talvez quisesse realizar ele mesmo a tarefa, a cobrinha de membros não me deixaria sair, ou mesmo enfrentar o outro. Mudar a arena de combate já seria uma boa desvantagem para ele.