Como um dos membros mais velhos da tropa expedicionária, era responsabilidade minha treinar os mais jovens e liderar diversas expedições fora das muralhas de Weingarten, quando o capitão ou o tenente não iam. Tenho apenas vinte e sete anos, porém estava ali desde os meus dezoito anos, de forma que eu tinha bem mais experiência que a maioria dos membros da tropa. Em meio a lutas, brigas com ghouls e imperfeitos, voltávamos vivos, cada vez mais fortes, blindados do perigo da morte, de tanto que vivíamos encarando-a e mandando beijos para ela. Voávamos para o espaço, flutuávamos e sempre ficávamos cada vez mais próximos das estrelas. E elas nos picavam com seus pequeninos grãos estelares, destroçando nossas almas com seu show de cores.

E no fim, vivíamos apenas para desafiar a morte de novo. E seguíamos nessa rotina por todos os dias, até finalmente ultrapassarmos o véu etéreo e beijar o fim. Bem, enquanto isso não acontecia, eu precisava acordar cedo e treinar Alexia. Ela era uma preeminente guerreira com poderes relacionados ao controle climático, bastante poderosa, porém ainda em um estado evolutivo de aprendizado. Minha missão? Ajudá-la a tornar-se mais poderosa, fisicamente falando, tendo em mente que: um corpo bem trabalhado e exercícios físicos auxiliavam a obtermos uma cabeça mais controlada e no lugar.

Tomei um banho rápido, comendo torradas, café e geleia, logo terminando tudo e me dirigindo à arena, onde já estava a loira me esperando. Acenei para a mesma, descendo as escadas e indo até a mesma.

— Então, Alexia, está se sentindo bem hoje? Uma das primeiras coisas que precisamos aprender ao lutar é que nossos sentimentos são nossa maior arma. Soube que, quando você fica muito triste ou irritada isso acaba afetando o clima. Isso é verdade? — perguntei sem querer soar intrometido ou querer invadir o seu espaço pessoal, porém aquilo que eu falara realmente era verdade; sentimentos eram poderosos e, dependendo do poder, ao lutar ou treinar de cabeça cheia podia resultar em catástrofes – o próprio capitão precisava se policiar pois diversas vezes ele já destruiu tudo com o seu poder sobre o fogo.

Apontei para as armas dispostas numa mesa; arco e flecha, machados, espadas, adagas, uma verdadeira infinidade de armas brancas, sendo que a outra mesa possuía armas de fogo, dos mais diversos tipos.

— Possui preferência? Arma de fogo ou arma branca? — questionei-a, sem revelar a minha preferência para não instruí-la a me seguir.

Alexia me parecia calma, concentrada e focada. Havia ido a nenhuma expedição com ela ainda e queria mudar isso assim que tivesse a chance. Ela me parecia ser uma boa soldada, porém ainda não tinha certeza se ela era uma boa lutadora.

Era possível ver que a garota não gostava de se sentir vulnerável. Ao longo dos primeiros anos como recruta, eu havia sido igualzinho a Alexia, me escondendo, ocultando os meus sentimentos o mais profundo que eu conseguia e então fingindo que tudo estava bem, que eu era um soldado frio e insensível com o único objetivo de seguir à risca todas as missões que me eram passadas, cumprindo-as com êxito. Por um bom tempo, isso era tudo o que importava para mim, tudo aquilo que eu desejava. Bem, foi assim até meu problema com minhas personalidades chegar a um patamar macroscópico. Eu sabia como a Leclerc se sentia pois éramos parecidos.

— Não há problema nenhum com você, Alexia. Seus sentimentos são inerente à sua personalidade, à sua alma, à você e a sua essência. Negar quem você é somente irá acarretar em problemas. Durante anos tentei ser alguém frio, sem emoção e um soldado perfeito e compenetrado nas missões, até que minha metamorfose me ferrou de um jeito que eu não pude trabalhar até parar de ficar trocando de aparência e personalidade a cada trinta segundos. — Confessei, encaminhando-me até a mesa e pegando uma espada ao notar que a loira possuía uma espada, a qual ela fitava com orgulho e apreciação modestas.

Troquei de espada, buscando a mais confortável e, segurando-a bem, voltei-me para Alexia e investi contra a mesma, a lâmina da espada indo diretamente na direção do seu flanco direito. Obviamente eu não iria feri-la, muito menos arrancar-lhe sangue, mas precisava deixá-la atenta e esperta para a aula.

— Suas emoções não precisam ser escondidas. Elas não são um monstro, o descontrole que é, caso não aprenda a controlá-las pelas rédeas. Vamos, defenda-se! — murmurei ofegante à medida que ia desferindo mais golpes contra a mulher, sendo sempre rebatido por sua lâmina, porém ia mudando de mão ao atacá-la e ia ficando mais rápido a cada golpe, buscando deixá-la acuada e no limite. — Mais rápido! Mais forte! Anda, Alexia! — gritei, agachando-me ao abrir as pernas em um espacate e, com a mão esquerda, busquei atingi-la no estômago.

Não pretendia machucá-la, porém queria fazê-la sair da sua zona de conforto, deixá-la no limite seria um bom remédio para que seus poderes se fizessem presentes e ela pudesse explanar como se sentia através destes.