OLD FRIENDS

A passagem a seguir é FECHADA AOS ENVOLVIDOS. Os envolvidos são Hazel Guinevere Nikolaev e Caleb Emrik Schistad. Em base militar de Le Ange, por volta das 20:00. O conteúdo que o texto aborda é LIVRE PARA TODOS OS PÚBLICOS.

Caleb Schistad costumava ser uma pessoa diurna, apreciava o dia como ninguém e normalmente tinha um bom humor a partir do momento em que acordava. Contudo, naquela manhã em especial, o simples fato de acordar havia sido um feito um tanto torturante. Além de ter um das piores rondas da sua vida na noite passada, ainda precisou fugir de perguntas sobre o olho inchado e sobre os porquês da falta de sorrisos amplos como lhe era tão costumeiro. Tentava ao máximo agir naturalmente com todos, mas era impossível deixar o mau humor de lado quando sua cabeça doía e ele precisava fazer não somente todas as suas funções, como também a do colega de ronda que estava hospitalizado.


Chegando o finalzinho da noite, Caleb se encontrava contando os minutos para encerrar seu turno e assim poder ter seu merecido descanso. Entretanto, enquanto arrumava suas coisas o descendente norueguês acabou sendo abordado por um de seus superiores, este que lhe informou que ainda faltava uma coisa a se fazer...Ou melhor dizendo, uma pessoa com quem se encontrar. Irritado e exausto, o subordinado apenas acatou a ordem, disposto apenas a acabar logo com tal função e por isso pouco notando a falta de informação que tinha aquele mandado. Quando adentrou ao campo aberto de treinamento, o homem encontrou uma única silhueta treinando ali, o que o fez questionar quem poderia ser a pessoa sem convívio social que preferia estar treinando numa hora daquelas ao invés de aproveitar a vida.

O barulho que seus pés faziam de encontro ao solo enquanto marchava até a pessoa misteriosa tinha como intuito deixar  evidente que não estava no seu melhor humor, todavia, ao perceber que se tratava da pessoa com quem mais tinha afinidade ali, toda a expressão corporal do homem foi substituível por surpresa. "Não pode ser...Hazel? Quando você voltou e que merda tá acontecendo aqui?" O seu tom de voz demonstrava a confusão na qual se encontrava naquele instante, apesar do sorriso nos lábios deixa evidente a felicidade em saber que a menor havia retornado da missão com vida. "Isso lá é jeito de me avisar que está de volta, Nikolaev? Devia se envergonhar !" Proferiu em falsa repreensão, cruzando os braços frente ao tronco e enfim se permitindo assumir uma postura mais descontraída. Permitiu então que os olhos escuros vagasse pelo físico feminino rapidamente, buscando por qualquer anormalidade ou marca de ferimento. "Então, tem alguma cicatriz nova acompanhada de uma nova história eletrizante para me contar, ou dessa vez não teve tanta ação?"  Engrandeceu o sorriso imediatamente, deixando transparente sua animação quando o assunto era o velho mundo.

Seguir a mesma rotina, todos os dias, é como estar preso a um lopp infinito. A verdade é que o tempo não espera por ninguém, mas o que fazer quando seu tempo é depositado – exclusivamente – para a rotina exaustiva que consome toda a sua vida? Tenha uma boa vida, eles dizem. Viva bem, alguns aconselham. Entre um soco e outro, Hazel refletia sobre sua vida. Pensou no pai, na mãe, e na saudade que sentia de ambos. Sequer havia tido tempo de se despedir dos dois. Tempo, SEMPRE o maldito tempo.

Os pés da morena moviam-se em harmonia, seguindo o movimento de seu quadril, este acompanhando o ritmo de seus braços. Apesar do corpo pequeno e da aparência frágil, ninguém – nem mesmo ela – era capaz de medir a força que possuía. Guinevere reconhecia seu potencial, mas não se envaidecia por isso. Considerava sua individualidade uma ferramenta para tornar aquela existência menos miserável. Não possuía apegos ou grandes objetivos, poderia morrer amanhã e isso não a assustava.

Suspirou por um momento, sentindo o corpo inteiro transpirar. O único som ressoando no campo de treinamento era o da sua respiração. Havia perdido a noção da hora, mas ainda tinha esperanças de que Caleb receberia seu recado. O rapaz era seu único amigo em Le Ange, mesmo mantendo uma boa relação com os demais militares. Emrik entendia o seu jeito extrovertido e, principalmente, o seu silêncio. Era sortuda e um tanto quanto privilegiada por tê-lo conhecido.

Quando a voz de Schistad soou no local, Hazel soltou as luvas no chão e correu em sua direção, envolvendo-o em um abraço apertado. — Você demorou. – Disse ao se afastar, corando levemente ao perceber que estava completamente suada. — Desculpe. – Murmurou em voz baixa, sorrindo em seguida. Por mais que não o visse há apenas duas semanas, era como se fosse uma eternidade. A descendente russa não era do tipo sentimental ou apegada, porém, Caleb era o único com quem tinha construído um laço afetivo, além do que possuía com a velha Miranda.

— Eu queria ter avisado antes, mas tive que resolver umas coisas. – Mesmo confiando nele, preferiu ocultar qualquer assunto que se referisse a Hektor, afinal, ele seria o primeiro a censura-la por ter confiado no químico. Guinevere encarou os olhos de Emrik por alguns segundos, sorrindo em seguida. Era tão bom vê-lo novamente. — Como sempre curioso, Schistad. – Riu ao dizer, sentando no chão e puxando-o pela destra para que ficasse ao seu lado. — Eu estou bem e sem ferimentos. – Indicou os braços e o abdômen exposto, confirmando sua fala. — A missão foi normal. Pelo menos dessa vez ninguém morreu. – Era nítido o seu alívio, sempre sofria com a perda de um companheiro.

Hazel encolheu os joelhos e abraçou as próprias pernas, ainda com a atenção voltada para Caleb. Um sorriso casto delineava os lábios cheios e, pela primeira vez em muito tempo, sentia-se feliz. — Como você está? – Perguntou enquanto vencia a pequena distância entre os dois, apoiando o queixo no ombro do maior. — Deixo você sozinho por duas semanas e já aparece com um olho inchado, Schistad?