A feição meramente emburrada, com traços ríspidos, enxergada por meio do reflexo do espelho no canto entre paredes do seu quarto. Apesar da falta de coragem em proferir o que realmente passava-se em sua mente, o herdeiro Forchheim era obrigado a agir conforme mandava as ordens do senhor e regente da família responsável pela tecnologia e informação, os Forchheim: unir duas famílias na intenção de perpetuar a linhagem pura de ambas. Horas antes, após o conselho semanal realizado pela mão - grupo de auxílio a administração do império, formado pelos líderes das famílias, o homem mais velho chegou de frente aos olhos do próprio filho. Pintando um sorriso grande na boca, exibindo todos os dentes esbranquiçados, declamou que havia falado com Diana Havard, a alta-ministra, sobre casá-lo com uma de suas filhas.

O terno o caía muito bem. Preto e branco, estas duas cores em especial realçavam o pigmento límpido no interior dos globos oculares masculinos. Torcendo o maxilar, franzindo os dentes, ajeitava a gravata, da qual tinha dificuldade em fazer quando deparou-se com ruídos de batidas vindas de trás de si, na porta. — Entre! — Exclamou, fingindo animação na voz. Não necessitou girar a postura ou o crânio para ver quem aproximava-se e adentrava o recinto, afinal, a posição do espelho permitia isto. Seu pai, vestido tão formalmente quanto o filho, ia até o menor.

— Deixe-me ajudar, filho. — Com a mão sobre o ombro dele, o virou para ele. Fez a árdua tarefa de dar o nó na gravata, sequer dando olhos por momento algum à felicidade de Rylee. — Está animado, não é? Sei que sim. Logo logo, você estará ocupando o meu lugar, bem como te treinei e ensinei a vida inteira. — O entusiasmo em cada letra dita pelo senhor estava evidente. O desejo inconsciente de orgulhá-lo, assim como ser alguém admirado pelo próprio pai, fez com que Rylee acenasse verticalmente com a cabeça e sorrisse de volta.

— Meu garoto! — O senhor Forchheim levou as mãos até os fios de cabelo penteado do rapaz, bagunçando-os, ao mesmo tempo em que ria alto.

[...]

A carruagem movida por cavalos cruzavam as ruas do distrito real de Calipso, em direção ao bairro determinado à residência dos Havard, local onde seria sediado o encontro dos supostos noivos. O maxilar apoiado pelo punho cerrado, a visão fixada à coloração alaranjada do céu do fim da tarde e no pôr-do-sol. Distraído com os devaneios que percorriam sua mente, não prestou atenção em uma palavra só do homem que o acompanhava - seu pai, provavelmente devia falar sobre os Havard, como eram importantes e quem era a menina com quem se casaria futuramente. Na verdade, os pensamentos devotavam a uma pessoa só, uma menina em específico e especial: Chiara. Chiara Greco Ferrari para não haver confusões. Ele sorriria sinceramente se fosse com quem unir-se-ia no sagrado matrimônio, mas, não. A diplomacia, política e soberania de Calipso valiam mais do que a própria felicidade de seus membros, mesmo que ela fosse viver junto de alguém que não pertencesse a este mundo.

Enfim, dando alguns toques rígidos a porta de recepção da enorme residência, logo uma das serviçais da alta-ministra atendeu, questionando se os dois homens eram as visitas tão aguardadas. Diana, segundos depois, apresentou-se aos olhos de Rylee, do qual fez uma reverência como forma de cumprimento. — É um prazer conhecê-la, senhora alta-ministra. — Em bom som e tom cordial, proferiu, ao mesmo tempo em que estabelecia respeitoso contato visual com a mais velha.

— Por favor, senhores, aguardam enquanto chamo minha filha. — Disse ela, sem enrolar muito. — Servente, os acompanha até a sala. — Ordenou a empregada ao lugar, onde, aparentemente, seria o encontro. Rylee sentou o traseiro no sofá, como havia sugerido a moça da limpeza e cuidados a residência. A coluna inclinada para frente, o olhos presos ao chão e os dedos entrelaçados, todos estes elementos formavam uma expressão de "não queria estar aqui", afinal, era o que passava pela mente dele. Não demorou mais de alguns minutos para escutar os passos, dirigindo até a sala. De imediato, levantou-se e assumiu uma postura mais digna. Descendo as escadas que levavam aos andares superiores, uma figura de cabelos acastanhados, acompanhada da mãe, mostrou-se. Jovem, mal devia ter entrado na fase adolescente.

— Senhor primeiro-investigador? — A alta-ministra clamou por sua atenção. — Vamos deixá-los a sós. Quero mostrar-lhe o jardim que tem aos fundos da casa.

O herdeiro dos Forchheim deu um longo suspiro, ao mesmo tempo que procurava formas de apresentar-se a ela e cumprir com as expectativas impostas sobre suas costas. Curvou-se diante da garota e ergueu a mão até a altura da destra dela, esperando que fosse depositada entre as deles para, assim, selar um pequeno beijo na pele dali. — Oi. — Após, ficou de pé novamente, forçando um riso sem jeito com fala. — Eu sou o Rylee. Você deve ser Hazel, certo? — Não sabia se era o certo questionar, mas o fez.