Atenções demais atraídas a ele, nem os dissimulados não viam. Cada passo afundado no monte nevado, um sussurro murmurado aos pés do ouvido. Olhos sorrateiros o encavam nos cantos, se questionavam, mas não conhecia exatamente o tema. Não. As difamação eram óbvias — o forasteiro tomou a posse da coroa do falecido "rei louco".

O costume aberto ao público sempre ocorria nos palcos do coliseu, nele somente um podia retornar em vida e com os órgãos em funcionamento. A duração longa do embate começou do anoitecer ao amanhecer. Ambos usuários de mimetismo: Regulus ganhava o aspecto do homem-pássaro chamado de Garuda, enquanto o falecido se transformava no homem-touro — o Minotauro da mitologia grega. A finalização causou espanto nos telespectadores: decapitação manualmente, usando da força do próprio físico para desprender os membros.

Os momentos do episódio recorriam aleatoriamente à mente de Regulus. Trinque no maxilar, pressão nos dentes e no meio da goela quando engolia o seco. Entalava. Nervosismo característico, o motivo foi o final. Apesar do choque instantaneamente, a vibração tomou as cabeças humanas ao redor em êxtase do espetáculo apresentado. A coroação o foi digna e ação, por outro lado, necessária; era um, ou o outro. O remorso do desafio o cogitava a fechar os punhos, ou mesmo massagear as têmporas, aliviando o tumulto dos pensamentos aglomerados. Egoísmo e futilidade nos rompimentos dos laços de reinado. Um forasteiro, alguém de outras regiões mordendo-se de raiva e buscando os gostos da vingança. Regulus Eredin era tudo isso, porém, acima de tudo, a coroa e os títulos de rei de espinhos e general de guerra o pertenciam.

Os vassalos conversavam com ele puramente por necessidade, em condições específicas e obrigação. Outras vezes, ordens para os homens e mulheres ajudantes da casa do regente, senão sequer proferiam um único ruído. Um mês de dificuldades e desconfianças, sem conselheiro e um aperto genuíno de mãos para incentivá-lo. Contudo, o tempo o fez perceber: nada vem de graça, nada vem sem o devido esforço; como conquistou o objeto que enfeitava o crânio, o mesmo deveria ser feito com os subordinados. Um por um, cautelosamente.

Suspiros se transformavam em névoas esbranquiçadas como gelo seco. Estático a poucos metros de distância da porta, semelhante a uma estátua. Imóvel, nada se mexia, inclusive os batimentos deviam ter interrompido. A exigência de umidade nos lábios secos e rachados, os tempos climáticos de Haafingar — o eterno inverno — não eram costumeiros para o rapaz. Pernadas lentas, passos sem sons. A energia da sua existência voltava a preenchê-lo aos poucos. As batidas, todavia, vívidas. Impactos ocos tremulavam a madeira, não poupava-se na ação.

Bastou menos de um minuto para a reação, um pedido de aguardo. Aguardou. Enquanto isso, estalou a língua no céu da boca. O corpo coberto de tecidos grossos para sustentar o calor entremeio à friagem, repentinamente sentiu uma rajada atacá-lo pelas costas — sendo específico, na cervical desprotegida. Imediatamente fechou as pálpebras e contraiu a face,  a sensação da queda de temperatura na pele causava extremos arrepios. Sobre os ombros, conduziu a visão aos meliantes. Menores de idade zombavam deles, apenas crianças a mando de adultos ignorantes e negligentes. — Certo. — Murmúrio de concórdia.  

Enfim, identificou a movimentação na maçaneta. O ranger das dobradiças abriam lentamente a porta e a figura mostrou-se nas frestas. A feição de Regulus não demonstrava nada além de neutralidade, mesmo passando por situações emocionais como ansiedade e ira. Ver o homem não mudou absolutamente nada, exceto o sorriso de cortesia. Brandon Kanda Onawa. O nome do receptivo. Capitão da divisão das azaleias da legião. No que trabalhava em prol. Tempos livres antes de deitar a cabeça no leito em repouso, o rei fez seus estudos. — Ah, sim. Por favor. — A abertura ao lado, passou nela ao interior da casa. — Obrigado por me atender sem aviso prévio antes, Capitão Brandon. — O mais jovem não oscilava as falas.

A primeira vez como visitante nas casas das divisões legionárias de Redoran, elas não diferenciavam muito das demais casas de residentes comuns, desconsiderando as grandes proporções. Andou só e devagar, analisando os detalhes minuciosos do habitat daquele homem. Para o habitat de uma fera era bem "humanizado", sem bagunça exagerada, sem marcas nas paredes de madeira. — Posso? — Se referia à mesa de jantar ao centro, iluminado sob o lustre de velas brancas. Revirou os olhos. O poder supremo solicitando permissão; irônico. Acomodando o traseiro na ponta, cadeira digna do líder e, certamente, devia pertencer a ele. — Vamos, me acompanhe. Quero conversar e, se possível, um café. — Privilégios da posição.