Ver o tópico anterior Ver o tópico seguinte Ir para baixo

:DIY: La morte cammina

:DIY: La morte cammina Empty :DIY: La morte cammina

Mensagem por Luna F. Lancaster Sex maio 31, 2019 12:01 pm

La Morte Cammina
A passagem a seguir é FECHADA AOS ENVOLVIDOS, no caso, se limitando à jovem Luna Falce Lancaster. É noite no cemitério de Viltra, por volta das 23h. O conteúdo que o texto aborda é LIVRE PARA TODOS OS PÚBLICOS.

Luna F. Lancaster
Queen Faux

12

26/05/1998

30/04/2019

25

Centro de Kaleo

Luna F. Lancaster

Ir para o topo Ir para baixo

:DIY: La morte cammina

:DIY: La morte cammina Empty Re: :DIY: La morte cammina

Mensagem por Luna F. Lancaster Sex maio 31, 2019 4:16 pm

la morte che è diventata vita

Quando o funeral terminou, aos poucos os convidados foram indo embora. Eram alguns passantes curiosos, um bom número de desocupados de Viltra, dois ou três expedicionários convidados por Valentin e apenas uns poucos familiares. Bom, Angela não tinha conhecido muita gente, apesar da idade, e também não tinha muitas amigas ou amigos. Os Lancaster não eram assim tão numerosos para uma leva considerável na cerimônia e mesmo o padre havia ido com pouquíssimos discípulos. Um enterro padrão de fim de tarde, silencioso com ocasionais declarações e algumas lágrimas. Oras, ninguém poderia dizer que havia sido realmente uma surpresa!

Era uma boa pessoa, claro! Mas a ideia de que havia passado por mais do que a maioria e de que tinha contemplado uma vida plena era suficiente para acalentar o coração dos mais próximos e dar-lhes o mínimo de segurança. Sessenta e cinco anos, em uma época em que grande maioria mal chegava aos cinquenta, era mais do que consolador. Talvez por isso não houve escândalo. Sem a desolação habitual também. Uma rápida missa aos seis deuses, uma homenagem dada pelo neto mais próximo. Logo o caixão foi se afundando no buraco que lhe cabia. Alguns até se arriscaram a jogar um punhado de terra com as próprias mãos em sinal de respeito, contundo  foram os coveiros que ficaram a maior parte do trabalho. Não se demoraram muito, nem mesmo os mais chegados.

Ainda que preservada no sentido da saúde, a mulher já estava em tenra idade antes de chegar ao leito, vacilando já há muito entre o mundo dos vivos e a dimensão dos mortos. Tinha seus cabelos já todos grisalhos e a pele flácida e gelatinosa, enrugada por demais e castigada pelas intempéries. A visão já não estava exatamente confiável nos últimos anos e as pernas estremeciam um pouco sempre que tentava caminhar. Nunca fora dona de grandes aventuras, em verdade, porém sempre fez o que podia para ajudar em casa, ganhando várias marcas do tempo que teve pela Terra. Ou pelo menos foi assim que foi enterrada!

Muito depois de todos terem ido, quando o sol já não era mais visto no horizonte e a lua já domava os céus, a pequena centelha finalmente encontrou o caminho para a cova. Era luminosa e errante, tremeluzindo em purpura noite à dentro: Fazia zigue-zague, entrava e saía de caixões errados, sentindo em seu íntimo que chegara o momento. Corpos putrefatos, já em decomposição, a rejeitavam quase automaticamente. Corpos antigos, ainda que não tão nefastos, demoravam mais um pouco antes de jogá-la para fora. Se não se encaixava, ainda que pudesse permanecer no interior continuava sendo apenas centelha. Uma busca homérica por um único corpo em um cemitério que já vira mais morte do que a maioria dos homens mais reconhecidos do exército... Até finalmente funcionar.

No corpo de Angela, a luz miúda e arroxeada simplesmente se expandiu. No centro do peito bombeava energia, obrigando a falecida à retornar. Uma verdadeira Odisseia, que levou muito mais de uma hora antes de finalmente surtir efeito. Forçar à vida um corpo que jazia em sua prisão de madeira era muito mais difícil do que parecia - e nunca havia parecido fácil! Piscou algumas vezes, a visão turva e a sensação de mal poder se mover. Tentou limpar a garganta engolindo em seco, mas logo percebeu a obstrução. Franziu o cenho, confusa. Não esperava que viver fosse assim tão incômodo. Tossiu algumas vezes, um barulho abafado arranhando na garganta. Droga.

Tentou achar uma posição mais confortável sem nenhum sucesso, suspirou desapontada. Se aquela era a famigerada vida, talvez preferisse ser centelha. Estava escuro e abafado, seu corpo doía com a sensação estranha de que algo não estava certo. Deu de ombros, parecendo se acomodar com o impossível. Fechou novamente os olhos, decidindo que não faria diferença abri-los ou não. A cabeça doía, cada célula parecia reclamar. Era a primeira vez que tinha um corpo, então parecia normal que fosse assim. Decidiu que precisava apenas de tempo para que viver se tornasse um gesto natural.

"Saia." Sussurrou-lhe a voz que vinha de nenhum lugar e de todos em simultâneo. Tinha um timbre grave e um ar autoritário, fazendo uma exigência, não um pedido. Ligeiramente confusa, tombo a cabeça para o lado, abrindo novamente os olhos na tentativa de encontrar o dono da fala. Não havia nada diferente: a tampa escura a um palmo da face, o corpo enrugado e sensível sendo apoiado em todos os pontos pelo cárcere. Não havia ninguém. Não havia nem espaço para que existisse mais alguém ali.

"Por que? Acabei de entrar." Devolveu em pensamentos, subitamente tendo a clara noção de que algo a rondava em sua psique. Era uma vantagem, em verdade. Com aquela coisa que tomava o espaço da garganta parecia impossível realmente falar. Esperou pela resposta, que não chegou de imediato. O interlocutor parecia não saber se a ignorava ou se respondia sua questão.

"Não do corpo... Do caixão." Responde por fim, parecendo ligeiramente impaciente. Parecia ter esquecido que a centelha, ao ser encorpada, se livrara de toda memória do caminho, conhecendo apenas o básico e apanhando as memórias mundanas para si. Rapidamente toda a cena do funeral invadiu a mente de Luna, ocupando cada parte de seu cérebro para garantir que prestasse atenção. Era uma espectadora do enterro do corpo que agora tinha para si, o que a fez parar por vários instantes. Estalou a língua no céu da boca, compreendendo qual seu papel em tudo aquilo: a pessoa trancada e enviada para a terra.

"Pareço velha." Retrucou simplesmente, sendo essa a única coisa a processar. Pelas memorias de Angela conseguia captar cada dor já sentida, cada incômodo e cada falha. "Os joelhos não funcionam, a visão é precária... Acho que as juntas no geral também não estão boas." Notou, tentando remexer o corpo para sentir os pontos que a velha outrora tanto se queixava em ter. Era fácil percebê-los quando se concentrava realmente nisso... Então optou por ausentar qualquer sensação dolorida. Assim como surgiu, tudo desapareceu... E pode ouvir o homem com que dialogava respirar com força para controlar a vontade de simplesmente deixa-la morrer.

"Saia." Ordenou, ainda que a Falce pudesse senti-lo tocar em cada pedaço de sua existência, moldando-a como a mesma facilidade de que brincava de massinha. Na verdade, parecia mais do que isso: não a alterava como um escultor. Era uma espécie de metamorfose reversa, iniciada em seus órgãos vitais e bombeando para todo o restante. Veias novas e sem tanta gorduras, cartilagem voltando para o lugar, massa muscular e gordura preenchendo os lugares certos. O estranho a rejuvenescia, fazendo a carne voltar aos tempos de juventude, bastante antes dos trinta anos. "Saia ou vou deixar que seja novamente expulsa desse corpo quando ele começar a ser deikcomposto e comido pelos pequenos animais. Melhor! Eu mesmo vou fazer com que meus protegidos a comam se não sair logo daí.

Era uma ameaça séria, energizada. A agora jovem Luna sentiu o arrepio correr por toda sua espinha, espalhando um medo irracional pelo ser que tinha tamanho domínio. Era-lhe óbvio que a ameaça não era inalcançável para alguém daquele calibre... Então suspirou baixo, finalmente cedendo ao comando. Quase com pesar se pôs a movimentar-se, os braços agora fortalecidos insistentes contra a superfície grossa de sua prisão. Um soco, dois, três... Mentalizou outra vez a imagem de sua hospedeira sendo enterrada. Tateou no escuro, sendo bem sucedida em encontrar as duas grandes agulhas de tricô sobre o peito. Parecia ser algo de valor sentimental para Angela, o que ainda não compreendia o motivo.

Era o suficiente, no entanto. Passou a raspar paciente a madeira, o ferro polido das duas enormes agulhas fragilizando a tampa. Não precisava realmente quebrá-la por inteiro: caso o peso da terra fosse grande demais para a fraca sustentação, ela acabaria se rompendo por conta própria. Assim se dedicou à tarefa enquanto o tempo passava: durante o dia sentia-se mais quente e abafada ainda, suando de um jeito nojento e horrível. Durante a noite, porém o clima era mais ameno e agradável. Era o único modo de conseguir controlar o tempo para si, ainda que pudesse errar quando a noite fosse quente ou o dia fosse frio. A voz não falava mais consigo... Até reaparecer como se nunca tivesse ido.

"Ainda está aqui?" Reclamou impaciente. Assumiu temporariamente a visão da menina para averiguar o progresso. Era alguma coisa, claro... Mas não era como se fosse conseguir se libertar no próximo minuto. Suspirou alto, ainda pelos lábios femininos, e depois a deixou controlar o próprio corpo. "Jure que será sempre fiel à mim. Quando eu mandar, matará ou salvará quem quer que seja. Me cultuará como os quimeras cultuam meus irmãos e, sem perguntas, fará o que eu pedir assim que sussurrar em seu ouvido. Não parecia bem um pedido, ao menos não do tipo de pedido que se podia recusar, então Luna simplesmente assentiu, balbuciando um "eu juro" com os lábios, ainda que a garganta seca e obstruída não emitisse som.

Foi assim que, pela segunda vez, o desconhecido tomou-lhe a existência. Estava em todos os lugares, deixando-a como observadora da própria vida, usando-a como casca temporária para parte de si mesmo. No instante seguinte, o corpo já não lhe respondia mais: estava mais forte, mas imparável. As mãos arranhando teimosas a madeira. As unhas quebravam e os dedos se enchiam de sangue na briga contra a madeira, as farpas fincando na pele e se amontoando no processo. Não conseguia ver o sangue pela escuridão, mas era capaz de senti-lo líquido e quente escorrendo para os pulsos e respingando na roupa a cada movimento. Não sentia dor, bem como antes, mas era incômoda a sensação de que estava sendo mutilada por si mesma. Em especial quando isso não era verdade. Teve vontade de pedir para que o agressor parasse... Mas não o fez.

Observou impassível as tentativas do outro, que logo também já fincava as agulhas na madeira em numerosos furos. Era uma força descomunal, que sabia não ser sua. Os joelhos também se voltavam para a busca pela liberdade, acertando incontáveis vezes o teto do cárcere. Sentia cada impacto, tendo a completa certeza de que também logo estariam em frangalhos. Durou uma hora, talvez duas. Quando a barreira finalmente se quebrou, viu-se livre olhando para o céu. A terra não mais encobria o caixão e, como que interpretando a pergunta não dita, a besta que a domava lançou-lhe a imagem dos pequenas criaturas liberando a passagem. Besouros, invertebrados... Até mesmo pequenos roedores que passavam: cada criatura que rondava a área se sentia compelida a auxiliar seu patrono. Patrono que agora também era o único deus para a Lancaster: Animal, impiedoso e irritadiço.

"Cumpri minha parte como foi prometido para seus criadores. Honrei minha promessa levando uma Falce para o passado. Espero que também cumpra a sua. Piscou algumas vezes, finalmente voltando a si após qualquer toque do deus sumir, seja em sua externalização ou em sua mente. Estava só, ainda deitada com os olhos no céu noturno, com o coração bombeando forte - parecia quase querer sair do peito. Estalou a língua no céu da boca, sentando-se por alguns segundos antes de finalmente se levantar. Com alguma dificuldade escalava para fora da cova, enfiando os dedos sangrentos na terra escura e cheia de pequenos vermes. Não pareceu se importar. Pelo contrário: quando se viu finalmente sobre a grama do cemitério, imóvel entre uma lápide e outra, respirou fundo, satisfeita.

Engasgou no mesmo instante, claro! O oxigênio sorvido empurrando para mais fundo o que lhe preenchia a garganta. "Droga." Maneou a cabeça em sinal negativo e enfiou dois dedos pela boca, o mais fundo que podia. O vômito forçado veio preenchido com bolotas generosas de algodão, agora umedecidas com sucos gástricos e um pouco de terra. Deixava um gosto amargo por toda a passagem até os lábios e fora o suficiente para sujar os sapatos fechados de camurça azul que tinha nos pés. Respirou outra vez, verificando a passagem, e quando se deu por vencida finalmente olhou ao redor.

Era noite outra vez e parecia quase uma personagem da cena que havia assistido alguns dias atrás. A diferença era que agora via do próprio ponto de vista e não a si mesma em um enterro... O que era minimamente mais agradável. Umedeceu os lábios, tentando definir as formas das coisas que apareciam em seu entorno. Apesar de escuro, nem se comparava ao breu de quando estava sob a terra, o que já parecia um bom passo: algumas poucas árvores, grama baixa... Algumas identificações de covas se erguiam no horizonte antes de onde podia distinguir uma grade de grossas barras.

Se esticou feito gato, espreguiçando e sentindo a extensão do próprio corpo antes de começar a andar com passos despreocupados. Tinha tempo, tempo demais, e já sabia para onde ir. Valentin sempre estava em Le Ange, então não havia motivos para a pressa. Bom, era óbvio que, como toda boa avó, estava indo atrás do neto. Podia se dar ao luxo de aproveitar da sensação do ar tocando sua pele, dos barulhos abundantes de que a cercavam. Podia se dar ao luxo de fazer cada coisa em seu devido tempo, dedicando-se a cada nova sensação.

Observações:
Luna F. Lancaster
Queen Faux

12

26/05/1998

30/04/2019

25

Centro de Kaleo

Luna F. Lancaster

Ir para o topo Ir para baixo

:DIY: La morte cammina

:DIY: La morte cammina Empty Re: :DIY: La morte cammina

Mensagem por Iscariotes Sáb Jun 01, 2019 10:13 pm

Bem, ignorando o que apontei a você no chatbox, não tenho muito o que reclamar a respeito da DIY quanto a erros, mas alguns "erros" ainda para mais. Vi um "deikcomposto" escrito em determinado momento, não me recordo qual - apesar da palavra me vier à mente da forma escrita. Não sei donde surgiu, mas não vou julgar, deve ter sido nada mais do que um momento apressado; não o descontarei. Falando na sua escrita pelo geral, é muito rica e diversificada, fazendo uso de termos que eu não conhecia, mas encaixavam-se perfeitamente no contexto.

A avaliei como uma DIY na dificuldade normal, porque não encontrei tanta dificuldade de fato nela, além da situação de estar presa dentro de um caixão. Se houvesse terra sobre a tua prisão, o que tornaria o acontecimento mais realista e apresentasse um modo válido e eficiente de escapar, eu encararia como difícil.

Enfim, apesar da minha demora para ler, levando em conta que eu procrastinei afirmando ontem que a veria assim que chegasse do trabalho, a narrativa é envolvente e bem construída. Lhe darei 1450XP, descontando somente 50 do total, devido ao mencionar do culto às entidades numa época em que seria impossível.

Está atualizada já.
Iscariotes
creation

273

18/11/1998

07/12/2012

25

Iscariotes

Ir para o topo Ir para baixo

:DIY: La morte cammina

:DIY: La morte cammina Empty Re: :DIY: La morte cammina

Mensagem por Conteúdo patrocinado

Conteúdo patrocinado

Ir para o topo Ir para baixo

Ver o tópico anterior Ver o tópico seguinte Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos
PARCEIROS
:: Topsites Zonkos - [Zks] ::