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O novo mundo

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Mensagem por Iscariotes Ter Abr 30, 2019 8:32 pm

O novo mundo


Na sede em Le Ange, a mesa repleta de pilhas de papéis, Amren via-se entendiada no final da tarde. O sol deitava-se no leito, enquanto a lua ascendia no lado contrário. Faziam semanas desde que a última inquisição, realizada pelo departamento de expedição do exército, saiu dos muros do império de Weingarten. Nada de notícias, nenhum sinal de vida sequer. Teriam eles morridos ao ir em direção ao oeste, ou perderam-se no caminho de ida ou da volta? Muitas perguntas a ser feitas e zero respostas.

Ao soar do relógio, batendo meia-noite, uma pequena criatura invadiu a sala da general, quando já estava sozinha. Pela manhã, acharam a ave negra - o corvo, com um pergaminho amarrado a uma das patas. Na letra do capitão da tropa de expedição, Éliphas Crowley, dizia a mensagem que haviam chegado ao território da antiga Espanha. Por sua vez, um local que jamais haviam explorado anteriormente. Uma pequena civilização, que mais parecia-se a um tipo de tribo, os acolheram, porque as embarcações foram destruídas com as marés e ventanias fortes.

"Acolhidos", melhor dizendo.

Os homens locais, a princípio, pareciam amistosos. Mas, com o tempo, revelaram-se uns demônios, com poderes em mimetizar criaturas de bestas humanoides - mistura de animal com humano. A tropa não teve tempo de reagir aos ataques na surdina da noite e alguns dos serviçais morreram em combate aos inimigos, tendo a carne usada como alimentos aos espanhóis reunidos em uma minúscula cidade. Os restantes, como aquele que transcrevem a carta, estão foragidos em meio às matas da região, buscando por abrigo, considerando que estão em menor número.

Essencial



  • Como você mesmo pediu, terá 25 dias para a realização da missão, tendo até as 23:59 para postar da terça-feira que vem, dia 25/05. Se precisar de mais tempo, me avise antecipadamente;

  • Ao final do post, coloque um link que leve diretamente à ficha de seu personagem. Não há porquê postar aqui, por exemplo, atributos, perícias e habilidades em geral, consultarei olhando a ficha;

  • É opcional a ti escrever a missão desde o momento em que tropa exp. sai de Weingarten em direção ao leste. Mas, é obrigatório incluir a introdução de que fiz na narração.

  • Como general, você tem o direito de usufruir do exército que tem em suas mãos e não sair só para novas terras, ainda mais sabendo do perigo que corre por lá. Só tenha cuidado que, como o capitão alertou, as terras próximas da costa da Espanha são assoladas por fortes tempestades marítimas e muitos homens podem morrer só nesta parte;

  • Os espanhóis citados, todos possuem mimetismos que envolvam "werebeast" (homem-fera), como lobisomens bípedes, tigres bípedes e outros exemplos. Apesar de parecer inofensivos por ter uma habilidade física, lembre-se que eles adotam as características e capacidades dos animais que mimetizam como o sonar de um golfinho e podem usar isto contra ti. A quantidade deles, ao longo da postagem, fica a teu critério, mas que seja coerente com o fato de ser um vilarejo canibal.

  • Sua missão é essencialmente resgatar seus homens.

  • Lembre-se que somente dei a base da missão, você pode criar mais coisas por cima disto. Vai da sua criatividade e contribuirá em pontos na avaliação.




Iscariotes
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18/11/1998

07/12/2012

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Iscariotes

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Mensagem por Feyre Galliard Dom Jun 09, 2019 11:54 pm




brand new world  
are your men, general. save them. give everything you have
Uma gota de suor escorreu pela testa da general, que estava atolada em uma grande pilha de relatórios e cartas para analisar e responder. O tédio e a preocupação a consumiam, um pelo ódio que ela sentia em ter que ficar trancada longe da real aventura, o outro pela falta de notícias sobre sua tropa que partira há dias. Amren preocupava-se mais com seus soldados da tropa expedicionária do que com a própria família, afinal já tinha sido um deles; a garota tinha permanecido em Le Ange, mas sua mente tinha saído de Weingarten com sua tropa. O sol ainda estava alto quando Amren pegou suas coisas e voltou para casa em Calipso, preferia não estar na base quando um soldado da guarda viesse lhe informar que se passara mais um dia sem terem notícias da tropa.

No dia seguinte, ainda sem vontade de lidar com papelada, mas tendo conhecimento de suas obrigações, Amren voltara para a base desesperançada e sem ânimo. Enfrentando, ao abrir a porta de seu escritório, uma surpresa esperava por ela. A garota não percebera nada incomum ao entrar em sua sala, mas um piar agudo a fez se virar abruptamente para sua velha poltrona de couro que jazia no canto do cômodo. Havia uma ave negra de pequeno porte sentada no braço da poltrona, ela parecia bastante confortável, mas não tirava os olhos sombrios de Amren por um só minuto. Ela o encarou de volta, brincando imaturamente com o animal de quem piscava primeiro (apesar de não ter certeza se corvos piscavam).

— Oi, amiguinho. O que está fazendo aqui? — A general se aproximou do pássaro com passos lentos e tentando evitar qualquer tipo de movimento brusco. Seu escritório não costumava ser invadido sem motivo, nem mesmo os animais se aventuraram ali se não precisassem realmente. Com um meio salto, ela conseguiu capturar o corto soturno com as mãos, evitando apertar o animal mais que o necessário e levar uma bicada. — Vamos ver o que você tem para mim, amiguinho... — Então ela viu o pequeno pedaço de pergaminho preso em sua pata. Perna? Ao estar em posse do que precisava, Amren voltou a libertar o animal, que, por sua vez, se recusou a ir embora e voltou à sua posição anterior no braço da poltrona.

Amren nem se deu ao trabalho de se sentar para ler o papel com calma, não conseguia conter a ansiedade por notícias de sua tropa. Não eram boas notícias, porém. O capitão e seus soldados haviam caído numa armadilha envolvendo uma pequena vila que haviam encontrado e, infelizmente, alguns deles não tinham sobrevivido. Agora, sem ter como voltar para casa, seus homens estavam presos em uma mata à mercê da natureza, sem contar a pequena população de canibais que queriam fazer deles sua próxima refeição. Com um chamado em alto tom da general, um de seus subordinados que faziam papel de secretário veio correndo. — O que precisa, minha senhora? — Ele ofegava bastante, mas ela estava eufórica demais para se importar com o bem-estar alheio. Seus homens estavam vivos e ela tinha ganhado a oportunidade de sair daquele escritório bolorento.

— Convoque uma dúzia e meia dos melhores soldados para me acompanhar em uma missão urgente de resgate, Arnold. — Ele não se moveu agilmente como ela esperava, apenas continuou ali a encarando com olhos confusos. — Missão de resgate, senhora? — A paciência da ruiva estava se esgotando em uma velocidade muito maior que o normal. — Para ontem, Arnold! — Ela não chegou a gritar, mas, ainda assim, ele parecia assustado quando saiu em disparada. Amren odiava ter que fazer papel de chefe mandona, mas às vezes era difícil lidar com novatos de outra forma. Ela passou os olhos pelo pedaço de papel novamente, decorando as palavras exatas que estavam escritas ali, e guardou o pergaminho em seu cinto.

No fim da tarde daquele mesmo dia, Amren embarcou em um dos navios disponíveis para o exército junto de alguns dos seus melhores soldados presentes. Sabia que seria melhor e mais seguro embarcar ao nascer do sol do dia seguinte, mas não conseguiria esperar nem mais um segundo; sua pele chegara a coçar com a fadiga.  Os soldados não pareciam felizes com a decisão súbita da general, mas não recusariam a tentar ajudar seus amigos e companheiros. Os dezoito escolhidos corriam de um lado para o outro preparando o navio para zarpar, deixando Amren um pouco perdida, afinal ela não saía em uma expedição há anos. Deixando sua sacola em qualquer canto, ela ajeitou sua armadura de couro e metal e se colocou a subir no mastro (O que, quando dita a qualquer um, pode se tornar uma frase extremamente pornográfica). A altura nunca fora um problema para a garota, ela se sentia mais livre lá em cima, como se pudesse voar.

Dezesseis horas se passaram, cerca de metade das vezes em que Amren quis jogar alguém no mar. Ela tentou de todas as formas se manter fora do caminho dos homens que estavam trabalhando, até mesmo os tripulantes não soldados, mas parecia impossível ter paz para bolar uma estratégia naquele lugar. Nas primeiras dez horas, ela se manteve no convés, analisando antigos mapas e relendo a carta que recebera. Nas primeiras dez horas, teve sua linha de raciocínio interrompida toda vez que algum soldado achava pertinente perguntar algo a ela, mesmo tendo designado alguém como capitão do navio. Nas seis horas que se seguiram após isso, ela já havia desistido dos mapas e passara a acreditar no improviso e força bruta. Nessas mesmas seis horas, ninguém se dirigiu a ela uma só vez.

Uma tempestade estava a caminho, era certo; nuvens escureciam o céu de fim de tarde. Ainda faltavam duas horas até que o sol se pusesse completamente, mas parecia já ser noite. Entretanto, a tempestade em si não era o que preocupava Amren, ela sabia que conseguiriam superar uma tempestade em dias comuns com um navio daquele porte, mas já estavam próximos de seu destino e o mar vizinho à costa da Espanha não fora descrito como amigo na carta do capitão da tropa. Aquele era um território desconhecido para os navegantes e a general sentia que uma tempestade não ajudaria em nada na sobrevivência dela e seus dezoito campeões. E se não sobrevivessem, Amren não só falharia em resgatar seus homens, como também teria sacrificado mais alguns em vão.

A chuva começou e, em poucos minutos, todos já estavam encharcados e afogando de forma afrescalhada nas grandes gotas que caíam do céu. Ainda não era um problema grande o suficiente para se preocupar, até que o vento se tornou forte demais para ser um aliado. As ondas pareciam ter triplicado de tamanho em relação às que Amren já tinha visto antes. O pânico começou a se instalar nos tripulantes, principalmente aqueles de classe mais baixa que só estavam ali para cozinhar ou limpar o chão, não haviam pedido aquilo, só queriam sustentar suas famílias. Logo, um arrependimento se misturou ao desespero que a general já sentia, não suportaria falhar com mais ninguém.  As ondas já passavam do convés e água que escorria por ali era forte o bastante para derrubar e carregar um ou outro homem através da extensão do navio. Até então, felizmente, todos pareciam vivos e longe do mar, apesar de severamente machucados e/ou amedrontados.

O soldado designado para capitão parecia um pouco perdido em sua função e, apesar de ter orgulho suficiente para não pedir ajuda, era possível ver o desespero em seu olhar ao analisar o caos que o navio estava se tornando. A natureza não se importava, entretanto, quanto mais tempo sobreviviam, mais ela se esforçava para destruí-los. Amren não poderia ficar parada nem mais um minuto, mas não tinha certeza do que poderia fazer. Então ela apenas puxou o capitão pelo colarinho, tentando ao máximo se manter em pé mesmo com a enxurrada lambendo suas botas, a água quase chegando aos seus joelhos. — Como podemos sobreviver a isso? — Porém, ele parecia paralisado demais para respondê-la com coerência.

Sua mão ardeu ao acertar a bochecha do soldado, que provavelmente ficaria com quatro de seus dedos estampados em vermelho no rosto. Ele pareceu acordar de seu estupor com o tapa, mas ainda estava extremamente perdido ao dizer com a voz atingindo um tom estranho de agudo: — General, eu não sei o que fazer... E-eu... Me desculpe, eu... — Ele balançou a cabeça sem saber o que dizer e ela suspirou, tentando se recordar dos termos náuticos que aprendera quando era um membro da tropa. Apenas se lembrava das partes do navio, o que não ajudava em nada na sua falta de experiência em conduzir uma navegação.

Ela apenas sabia que seria pior se o navio continuasse enfrentando as ondas na horizontal, então soltou o capitão para que ele pudesse conduzir o leme. — Guinar a estibordo, capitão. Vamos enfrentar aquelas ondas de frente. — Parecendo bastante aliviado por não ter mais que liderar a navegação, o capitão recuperou o leme que girava desgovernadamente. Os outros tripulantes a olhavam com expectativa. Queriam sobreviver e sabiam que para isso teriam que querer trabalhar. Ela respirou fundo, tomando coragem para exercer uma função que recebeu sem estar pronta para ela. — Soltem a vela principal. Quero força nesse navio. — Ela gritava ordens, sem ter muita certeza do que estava fazendo ou se iria funcionar, e silenciosamente amaldiçoou seu pai por tê-la colocado naquela situação. Diferente dela, ele teria sabido o que fazer.

Todos trabalhavam com muita determinação, mas as ondas pareciam duplicar de tamanho a cada minuto e a chuva estava dando tudo o que tinha em cima deles. A general não sabia como amarrar velas nem guiar o leme, mas tentava conter um pouco da água com escudos de força e proteger seus tripulantes enquanto tentavam girar o navio. Gritos ecoavam na noite escura sempre que alguém era arrastado pela enxurrada formada no convés, e o som parecia perfurar o cérebro da garota, a lembrando de como tudo aquilo era culpa dela e de sua impulsividade. Alguém chamou desesperadamente por seu nome, mas quando ela ia se virar para ver quem era um mastro horizontal a acertou em cheio no estômago. Ela não fazia ideia de onde ele tinha vindo, mas a acertou com força o suficiente para roubar seu fôlego e lançá-la ao mar. Amren tentou voltar à superfície, mas uma onda quebrou bem em cima de sua cabeça.

A correnteza era forte demais para ela conseguir lutar contra e as ondas não paravam de quebrar em cima dela, (nunca tinha entendido o porquê de as ondas sempre quebraram em cima de quem estiver no mar). Era possível ouvir alguém gritando seu nome do navio, mas ela estava se afastando mais e mais, sendo levada pela correnteza. Tentou nadar e gritar para que não pulasse ao mar em seu resgate, mas seus membros estavam perdendo a força e, sempre que abria a boca, litros de água salgada invadiam seu sistema digestivo, a fazendo engasgar e deixando entrar ainda mais água. Com o tempo, ela desistiu de lutar por sua vida; rezando para que o mar tivesse piedade e que os tripulantes de seu navio pudessem resgatar a tropa expedicionária perdida sem ela. Amren não tem certeza da hora em que perdeu a consciência completamente, mas seu último pensamento com certeza foi uma palavra bem feia direcionada a seu pai falecido.

Quando Amren abriu os olhos novamente, seu rosto estava enterrado na areia úmida; a maré provavelmente tinha a carregado até ali. Ela sentiu todo o corpo dolorido e havia areia em toda a sua face e garganta, mas não parecia haver ferimentos fatais; um rasgo que deformava a manga direita de suas vestes e fazia seu braço sangrar era o pior ferimento que encontrara. Seu real problema agora era saber onde estava e por que não via seus homens e o navio em lugar nenhum. Tudo de incomum que havia na praia era ela e, ao olhar para o horizonte, só encontrou a bela junção do céu e do mar. Estava completamente sozinha e confusa, mas não desistiria de sua missão. Levantou-se, verificando o que tinha além de suas roupas molhadas e rasgadas. O pergaminho de Éliphas já não estava mais em seu cinto, provavelmente tendo sido destruído pela água salgada.

Amren não se permitiu tirar um momento para imaginar como tinha sobrevivido, pois sem água potável, comida e proteção adequada, a natureza provavelmente tinha poupado sua vida em vão; precisava de um plano. A pequenina praia em que se encontrava nada mais era do que um deserto de areia branca diminuto que terminava numa mata densa. Não fazia ideia de onde estava ou onde deveria ir e, com pesar, percebeu que não só tinha falhado em resgatar seus homens, mas agora provavelmente também precisaria ser resgatada. Suspirou com raiva antes de entrar na mata. Se fosse para morrer, não morreria sem ter tentado sobreviver com tudo o que tinha.

A julgar pela altura da lua no céu, o amanhecer estava próximo, mas a luz ainda era quase nula, tornando impossível enxergar com clareza em meio às altas árvores que compunham aquela mata em específico. Amren estava rezando para ter sido levada para uma praia próxima à cidade descrita na carta do capitão da tropa, mas a esperança a abandonava conforme o tempo ia passando e ela não encontrava ninguém; até os canibais seriam uma boa companhia em seu desespero. A sede e a fome foram tomando conta dela com o tempo, e o chão desnivelado não facilitava seu objetivo de chegar ao outro lado da mata. Infelizmente, não encontrara nem uma fruta ou riacho durante o caminho percorrido até agora, lhe deixando à mercê da raiva.

Um rosnado se fez ser ouvido próximo demais da garota para não ser uma preocupação, a paralisando. Não parecia ser uma onça ou qualquer outro animal com o qual ela pudesse lidar facilmente. Não, o som era mais profundo e sentimental do que o rosnado de um simples animal. Então ela se lembrou das palavras escritas na carta enviada por Éliphas; homens que se transformavam em bestas, dizia ele. Ela respirou aliviada por um momento, pelo menos estava perto de seu destino, porém, ela estando sem nenhum tipo de armamento além dela mesma e enfraquecida pela falta de comida em água, ela soube que não poderia enfrentar uma besta daquele porte. Se o emissor daquele rosnado a encontrasse, ela se tornaria comida.

Suas opções eram correr de volta para a praia ou chorar sentada embaixo de uma daquelas árvores, enquanto esperava que a besta viesse lhe comer. Nenhuma parecia muito interessante para ela. Entretanto, se colocou a correr ainda assim. Areia e sal marítimo não poderiam ser pior do que garras e dentes afiados. Suas pernas, contudo, não estavam muito dispostas a obedecê-la com precisão, e sua velocidade não era muita e a criatura parecia extremamente próxima, a general quase já podia senti-la em seu encalço. Sem a energia do sol para fortalecê-la, ela só tinha a si mesma como fonte de poder, mas se preparou para lutar por sua vida assim mesmo. No entanto, algo a puxou para trás de uma grossa árvore, quando o ser monstruoso e peludo saltou com tudo para onde ela estava alguns segundos antes.

— Corre! — A pessoa que havia salvado sua vida sussurrou em seu ouvido e sem pensar muito antes de fazer, ela correu. Correu por sua vida e pela vida de seus homens. Correu mesmo não tendo mais forças para correr. Porém, como esperado, a criatura era muito mais rápida que eles e os alcançariam facilmente se não arranjassem um jeito de despistá-la. Jogando-se sobre ela, a pessoa lhe tirou do caminho mais uma vez, segurando a por trás e lhe tampando a boca com uma mão. Não muito longe de onde estavam, era possível ouvir a criatura puxar o ar com força, provavelmente farejando o rastro dos dois. Com a mão livre, a pessoa que a segurava (agora percebendo que se tratava de um homem com mais ou menos a idade dela) espalhou terra molhada por todo o rosto e pescoço da general; cheirava a cocô de cavalo e folhas úmidas, mas ela entendeu o objetivo.

A criatura se afastou o suficiente deles para que pudessem voltar a correr sem que ela os farejasse ou ouvisse. Alguns minutos de caminhada e muitas armadilhas amadoras evitadas depois, ela e seu salvador chegaram até o que parecia ser um acampamento improvisado no meio da mata. Alguns homens e mulheres estavam agrupados no centro, formando um pequeno círculo, e discutiam algo com afinco. O rapaz que a trouxera até ali sorriu sem animação. — Olha quem eu encontrei fugindo de um dos nossos anfitriões... — Todo o grupo se virou para olhá-lo sem muita vontade. Amren reconheceu alguns como membros da tropa expedicionária, mas o capitão não estava presente e, com a cara suja de terra fedida, machucada, com fome e sede, e sem saber como voltariam para casa, a general não conseguiu se sentir animada por tê-los encontrado, estava nutrindo um sentimento de que os tinha achado apenas para lhes dizer que havia falhado com eles.

Eles, entretanto, pareciam muito felizes por vê-la. Até recebeu alguns abraços vindos de pessoas que normalmente não teriam coragem nem de lhes dirigir a palavra. Ela ficou feliz com o carinho, estava se sentindo extremamente abandonada. Amren tentou manter a postura, mas a vontade de chorar como um neném crescia a cada minuto. Infelizmente, o paradeiro de seu navio e seus homens ainda era incerto e ela não conseguiria ignorar isso. Uma voz masculina carregada soou em suas costas, lhe causando arrepios nos braços. — General! Achei que não viria mais... — Amren se virou, abraçando a cintura de Éliphas com força. — Oi, capitão. Achei que já estava morto uma hora dessas... — O rapaz parecia extremamente surpresa com o abraço, ficando paralisado onde estava sem correspondê-la nem a afastar. Seu salvador, todo sujo e fedido, e agora sentado em um grande tronco de árvore, a observava com certa curiosidade. — Como foi mesmo que você chegou aqui, general? — Ela deu de ombros, sem paciência.

— De navio, é claro. — Todos os outros soldados se entreolharam confusos, mas foi o capitão quem deu continuidade ao interrogatório. — Você conduziu um navio inteiro até aqui sozinha, general? — E foi então que ela se deu conta do que eles queriam saber realmente. — Não, eu... Havia outros... Muitos outros... — Eles não perguntariam diretamente por que só ela tinha chegado até ali, mas ela sabia que queriam muito saber. Ela não podia lhes responder isso, pois nem mesmo ela sabia a resposta, então ela apenas suspirou com pesar. O rapaz que a trouxera sorriu de canto, e apesar de tê-la salvado, ela sentiu que ele gostava de ver a derrota dela. — Eu soube que os nossos anfitriões possuem novos prisioneiros. Talvez tenha perdido mais alguns homens, general? — Ela sentiu vontade de revirar os olhos, simplesmente não entendia porque sempre que lhe faziam uma pergunta terminavam a frase com a palavra “general”.

»»»


Seu escudo de energia fora destroçado após levar golpes demais. As garras da criatura parte homem parte leão com quem lutava, perfuravam o ar com fúria, tentando acertá-la. Pelo canto do olho, ela pode ver alguns de seus homens correndo até o navio que tinha sido capturado, enquanto outros tentavam conter as criaturas híbridas. Muitas perdas haviam sido sofridas naquele dia, mas conseguiriam ir para casa, nem que ela mesma se sacrificasse para garantir isso. Com a mão direita, ela invocou uma espada de energia solar, que se solidificou dentro do peito do leão humanoide, o cabo vindo até sua mão bem diante dos seus olhos. Ela girou a arma recém-criada com ódio antes dela desaparecer como se nunca tivesse sequer existido. Os olhos da criatura se apagaram e ela caiu no chão sem vida, voltando a sua forma original humana.

Um grito humano ecoou à sua direita e ela só teve tempo de virar a cabeça, antes da cabeça de seu salvador ser arrancada do corpo por presas amareladas de um híbrido bípede de homem e tigre. Eles estavam sendo massacrados e aqueles que conseguissem chegar ao navio, provavelmente não seriam suficientes para tripulá-lo ou seriam mortos por alguma daquelas criaturas que fosse aquática. Com um rápido olhar ao seu redor, ela calculou que havia cerca de dez homens próximos, dentre membros da tropa e soldados que a tinham acompanhado até ali. Menos de um terço do total de soldados sobreviventes. Grande parte dos outros já estavam no navio ou próximos a ele. Uma lágrima escorreu por sua bochecha, a tristeza pelo que tinha que fazer tomando conta de seu peito.

Ela podia sentir a energia que emanava do sol e do conflito que se passava por toda a praia flutuando no ar, apenas esperando que ela a absorvesse. Ela não queria prosseguir com seu plano, mas não parecia haver nenhuma outra escolha que pudesse tomar. Sabia que a vida de alguns não justificava a vida de todos e esse era o único jeito, mas não doía menos por isso. Sua pele parecia esquentar conforme absorvia a quantidade de energia que necessitava, não podia passar do limite ou seu corpo não aguentaria. Se explodisse ali, provavelmente levaria consigo aquelas criaturas e daria uma chance a alguns de seus soldados, mas não era uma suicida. Com um grito de guerra, ela liberou a energia aprisionada em seu corpo, numa grande rajada circular e luminosa.

E naquele momento, algumas vidas foram perdidas e outras foram salvas. E então, viajariam para casa sem comentar sobre tudo o que acontecera, guardando todas as mágoas e tristezas para si mesmos e sem terem vontade de falar sobre todos os sacrifícios que sofreram e fizeram para sobreviver. Por dias não encontrariam motivos para sorrir e a general para sempre lembraria do que fizera com aqueles que confiaram nela, com aqueles que ela deveria ajudar e salvar. Alguns estavam vivos, mas não sentiam vontade de estar.

missão ONE POST. tem 3647 palavras e acontece primeiramente na base de Le Ange, com sequência na antiga Espanha.
ocorre em meados de maio de 2302, e se trata de uma missão solo.
post único.

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Feyre Galliard
O novo mundo Xhep0U1

35

04/04/2019

Feyre Galliard

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