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[DIY] i'm a survivor, i'm not gonna give up

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Mensagem por Valentin Lancaster Qua Abr 24, 2019 7:55 pm

i'm not gonna stop, i'll work harder
A passagem a seguir é FECHADA AOS ENVOLVIDOS. Os envolvidos são apenas Valentin Lancaster. Na Alemanha, em alguma cidade desconhecida, por volta das 21hrs. O conteúdo que o texto aborda é SOMENTE PARA MAIORES.

Na DIY, Valentin estará em seus primeiros meses de serviço à tropa expedicionária. No meio de uma missão, seu grupo sofrerá um ataque surpresa e apenas Lancaster e um companheiro ficará vivo, tendo de usar todo o seu conhecimento para sobreviver e arranjar um caminho de volta para Weingarten, tendo de batalhar pela sua vida.



Última edição por Valentin Lancaster em Ter Abr 30, 2019 3:26 pm, editado 3 vez(es)
Valentin Lancaster
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12/04/2019

Base militar de Le Ange

Valentin Lancaster

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Mensagem por Valentin Lancaster Qua Abr 24, 2019 8:42 pm




   
a partida (1/5)





"Tudo o que precisamos, às vezes, é de fé", dizia meu pai para mim sempre que saía de casa com sua armadura brilhante e dourada, um braço apoiado no joelho e uma mão no meu ombro. Eu segurava sua mão, sempre receoso e com medo, temendo que ele nunca mais fosse voltar, mas ele sempre tinha aquele sorriso pacificador, me deixando sem alternativas a não ser ter fé nele. Ele sempre voltava, não era? Saía para caçar monstros, montado em seu cavalo branco e brandindo a sua espada com bravura. Ele sempre voltava. Sempre.

Até que um dia ele não voltou.

Os dias se tornaram mais cinzentos, com nuvens escuras e com folhas que morriam lentamente nas cores amareladas, alaranjadas e avermelhadas do outono. O inverno veio, os flocos de neve caíam e não haviam anjos desenhados no chão branco, ou bonecos de neve. Não havia mais felicidade em minha vida e eu sabia que aquilo iria me moldar, me transformar para sempre em alguém forte, agridoce e esperto. Chegava a ser cruel, os melhores guerreiros serem moldados pelo sofrimento e pela dor, mas era exatamente assim que o mundo funcionava. Afinal, quem diria que era preciso uma guerra nuclear para que os humanos finalmente evoluíssem e ganhassem poderes? Era injusto, mas era assim que a terra girava.

Ingressei na tropa expedicionária aos dezessete anos, quando fui descoberto por alguns guardas que patrulhavam as ruas. Eu estava "brincando" de me transformar em várias pessoas com alguns amigos nas ruas de Kaleo. Eles apontavam para a pessoa e, bastava fitá-la, para copiá-las. Eles acharam aquilo útil, afinal como um guarda eu poderia me infiltrar entre os monstros de El Diablo, acabar com gangues e máfias e levá-los a justiça. Minha mãe e minha avó não concordaram, mas não havia como fugir daquilo; era o meu destino, ou pelo menos sempre acreditei que fosse.

Era preciso ter fé, não era? E foi o que fiz; confiei neles, me uni à guarda civil e, no meu primeiro dia, fui chamado pelo capitão da tropa expedicionária. Ele me olhara com frieza, porém sorriu de canto e decretou para o capitão da guarda civil que eu era melhor com eles. Bem, não tive nenhuma escolha, afinal de contas, mas não reclamei, pois com a tropa eu poderia fazer o que o meu pai fazia de melhor: explorar. Eu sempre havia sido um garoto curioso, me adaptava a tudo e todos e era inteligente, então não deveria ser difícil.

Bem, eu não poderia estar mais errado.


***


As muralhas eram altas, pareciam querer atingir os céus, tocando as nuvens. Os cavalos se moviam lentamente numa marcha insuportável, enquanto eu seguia cinco parceiros, havendo um sexto homem, cuja experiência o tornara o líder daquele comboio. Minhas mãos enluvadas seguravam com força as rédeas do cavalo. Tinha água, comida e uma espada – ainda não tinha a permissão para portar armas, por ser novato e sem treinamento ainda –, mas ainda não me sentia seguro. Provavelmente alguém estava me vendo com cara de nervosismo, pois um dos rapazes me cutucou e distribuiu um sorriso galanteador e anedótico.

— Não precisa ter medo, cara, nós iremos voltar são e salvos. Não precisa ter medo. — Consolando-me, o cara piscou o olho, logo assumindo a dianteira do nosso grupo enquanto eu ficava entre os últimos.

Meu coração pesava uma tonelada neste momento, um calafrio subia pela minha espinha e sentia meus membros paralisados. Sorte que estava a cavalo, se estivesse de pé eu já teria caído a essa altura. Os portões pesados começaram a subir, enquanto uma brisa fresca trazia um cheiro característico, surpreendentemente doce, e então notei que havia um campo aberto e cheio de flores que, segundo livros lidos, só podiam ser orquídeas. Imediatamente me acalmei pela beleza delas, e por um segundo esqueci por completo que ali fora eu não estava seguro.

Prosseguimos, com o nosso líder, cujas expressões firmes escondiam um poder avassalador envolvendo raios alaranjados, logo à frente, com um mapa em mãos. Eu ainda não era bom geografia, sabia muito pouco do mundo aqui fora, mas eu havia lido muitos livros e recebera muitos ensinamentos de meu pai sobre como sobreviver, então uma noção básica de sobrevivência eu podia garantir que possuía. Só esperava não ter de me virar por conta própria nem tão cedo.





722 words


Última edição por Valentin Lancaster em Qua Abr 24, 2019 11:24 pm, editado 1 vez(es)
Valentin Lancaster
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Mensagem por Valentin Lancaster Qua Abr 24, 2019 11:22 pm




   
desfalcados (2/5)





Haviam árvores por todas as partes, compridas e cheias de folhas verdes, cujos frutos podiamos pegá-los e comê-los. Eram doces, suculentos e cheios de água, mas, segundo o líder da nossa expedição, nós precisávamos avançar rumo às cidades, onde haviam criaturas que usavam as casas e prédios para se ocultarem e proliferarem. Lá, não teríamos mais a ajuda das árvores e arbustos para nos escondermos, nem as frutas para que pudéssemos comer. Sendo assim, colhi o máximo possível de frutas, guardando-as em minha mochila de couro, assim como peguei frutinhas menores de arbustos e enchi um cantil extra de água que eu havia levado. Não sabia quanto tempo ficaríamos na cidade. A previsão era durarmos apenas dois dias fora, mas poderia se estender.

— Como vocês acham que era a vida das pessoas lá na cidade? — quebrei o silêncio, usando as mãos para retirarm galhos e folhas compridas da minha frente. Claro, deixava meu braço transformado em pedra para que não acabasse me machucando.

— Deveria ser muito bom. Os prédios são enormes, as casas são espaçosas, as construções são bonitas, mesmo tendo se passado todos esses anos. — Comentou um homem grande e ruivo, seus cabelos compridos amarrados em coque. Ele usava um facão para cortar as folhas e galhos à sua frente.

— Bem, eu acho que foi isso que os destruiu, para início de conversa — comentou um rapaz de óculos, enquanto lia um livro e deixava os galhos passarem por seu corpo, enquanto a parte superior de seu corpo se tornava quase invisível por causa da sua intangibilidade. Todos nós nos voltamos para o rapaz, sem compreender direito a sua perspectiva. — Pensem bem: aquelas casas são lindas, mas quase não tem muros, as paredes são de concreto e tijolo facilmente quebráveis e as cidades são abertas, qualquer um pode entrar. — Explanou o jovem, dando de ombros e olhando para trás, fitando o ruivo e eu.

— Eu acho que não havia necessidade naquela época. O mundo era mais seguro. — Comentou o líder da nossa expedição, finalmente falando depois de todo esse tempo calado. Todos nós nos voltamos para ele e nos calamos de imediato. Entretanto, após mais ou menos um minuto, decidi quebrar o silêncio mais uma vez.

— Eu não sei quanto ao senhor, Holland, mas eu li muitos livros e, se tem algo que eu notei, é que desde o início da humanidade nós nunca tivemos segurança. — Comentei, recebendo olhares um pouco rixosos. Engoli em seco, calando-me e nem me dando ao trabalho de falar nada; o meu líder não parecia ser muito inclinado a ouvir opiniões contrárias a sua.

Prosseguimos até nos vermos à beira de uma estrada, já rachada e maltratada pelo tempo. O trotar dos cascos se tornaram não mais fofos e sim ruidosos, enquanto seguíamos pelos carros retorcidos e motos escangalhadas. Aqui e ali avistava pequeninos ossos humanos, já em estado precário devido ao avanço do tempo. Fiquei atento, pois ossos recentes e vestígios de sangue poderiam indicar que haviam monstros por perto.

***

Assim que chegamos na cidade propriamente dita, o ar se tornou mais denso, o céu assumia uma coloração encardida, provavelmente devido aos restos de radiação do inverno nuclear. O clima era pesado enquanto prosseguíamos pelo local, a atmosfera não era mais leve, não haviam os sons de grilos, sapos e pássaros como na floresta, o que indicava que agora estávamos adentrando no terreno deles, das bestas famintas e hediondas, escondidas na selva de pedra.

— Todo o cuidado é pouco, permaneçam unidos, armas a postos e silêncio, eles são muito rápidos e tem uma ótima audição. — Advertiu Holland, enquanto eu assenti, mesmo com ele de costas para mim logo à frente. Na verdade, eu assentia para mim, nervoso com o que poderia encontrar. Já havia visto do alto da muralha monstros serem exterminados ao se aproximarem de Weingarten, mas nunca havia enfrentado um com meus próprios punhos e armas.

Tudo era quieto demais por ali. As estruturas eram realmente impressionantes, mesmo com a passagem do tempo tendo destruído grande parte de diversos edifícios. Prédios gigantescos, maiores do que tudo que podíamos ter feito em Weingarten, com vitrais estonteantes e mesas e cadeiras executivas, lojas com aparelhos tecnológicos inutilizáveis, porém exuberantes com suas telas enormes e outros menores, que cabiam na palma de nossa mão, com cartazes anunciando inúmeras habilidades incríveis que eu queria poder ter testemunhado. Era uma pena, pois tudo ali era velho demais para ser usado e tudo o que restava eram esqueletos velhos, um brilho fraco de algo que há muito tempo atrás fora grandioso.

Continuamos seguindo pelas ruas enormes e vazias, quase todas lotadas de carros velhos que haviam sido pegos na explosão nuclear, séculos atrás. O ar sibilava como serpentes, papéis voavam e tudo gritava perigo para mim, mesmo que não houvesse nada digno de ser considerado "perigoso" ainda. Prosseguimos com calma, até que nosso líder ergueu o punho direito fechado, nos indicando para que parássemos. Assim o fizemos. Não havia nada ao nosso redor, exceto prédios, veículos retorcidos e só. Foi então que tudo transcorreu com a rapidez de um tiro.

À nossa direita, havia uma janela negra com um vidro provavelmente pintado por tinta, agora quebrada. Um monstro saiu de dentro com suas garras, uma risada desvairada e garras cortantes. Nosso líder mal teve tempo de segurar a metralhadora em volta do seu corpo, pois fora derrubado de seu cavalo pela criatura, que mordia diretamente a sua jugular e era ferida no estômago por raios de energia de Holland. O ruivo de fios longos pulou de seu cavalo, lançando longas adagas feitas de gelo de suas palmas, porém fora interrompido quando uma segunda hiena sorridente quebrou uma janela, esta a nossa esquerda, caindo diretamente do homem e rasgando sua jugular e parte do ombro direito, lançando sangue em todas as direções.

Abismado com toda aquela violência, não tive reação a não ser lutar. Minha pele mudou para o aço assim que pulei do cavalo, e então agarrei o monstro que mordia o soldado Collins e arrastei a mesma, cujas garras fincavam no solo, rasgando-o. Seus gritos eram semelhantes a risadas, agudas e insuportáveis, entretanto também eram emitidos gritos semelhantes aos do próprio Collins. Arrastando o monstro ao puxar os pelos que formavam sua crina, girei o corpo, lançando a criatura longe. Ao meu redor, o jovem de óculo tinha dificuldade, pois sua única habilidade era ficar intangível.

— Continue assim, Mose! — berrei, sendo subitamente pego por trás por mais uma das hienas, agora em cima de mim, suas garras buscando me arranhar, mas sem sucesso algum. Grunhi, agarrando suas patas dianteiras e jogando-a à minha frente. A esta altura, nosso líder e Collins já estavam mortos, com suas jugulares escancaradas.

Nox, um homem alto com uma força além do comum, tinha dificuldades mais a frente, pois estava lidando com três hienas ao mesmo tempo, sozinho. Mais e mais daquelas feras sanguinolentas saíam dos dois prédios ao nosso lado, comprovando que elas estavam ali, provavelmente se reproduzindo ou dormindo, e acabaram sendo despertadas por nós. De qualquer forma, havíamos tido dificuldades e nenhuma sorte de partirmos para aquela zona logo de cara. Em meio a luta, éramos apenas cinco contra, no mínimo, dez ou mais daquelas hienas risonhas e infelizes, todas gritando palavras semelhantes ao timbre vocálico de Holland e Collins, o que tornava tudo ainda mais assustador.

— Não recuem! — gritou Nox, caindo no chão e com sua pele escura cheia de sangue e cortes das poderosas garras das hienas, gritando em seus ouvidos. Corri até o meu parceiro, puxando uma das hienas pela crina e socando-a na face, ignorando seus arranhões em minha pele de aço.

Dei diversos socos, largando a criatura morta e puxando outra das hienas pelo rabo, arrastando-a pelo chão e girando o meu corpo, lançando-a como uma bola contra o prédio, no qual ela se chocou e o manchou de vermelho, caindo numa lixeira. Estendi a mão para Nox, sorrindo para ele. Mas, foi aí que ele de repente mudou de expressão; boquiaberto, traumatizado, assustado. Olhei para trás, sentindo as lágrimas descerem de meus olhos enquanto queria gritar, chorar, tudo ao mesmo tempo. O pobre Mose, agora erguido do chão, seu livro preferido manchado de sangue ao chão, assim como seu óculos que caiu no chão, empapado em sangue.

Havia uma águia gigantesca, de dois metros de altura, no mínimo, com seu bico perfurado no estômago do desavisado e inocente Mose, cujo olhar era agora vítreo, desprovido de vida. Caí de joelhos, impotente diante daquela visão. O bico negro e fino começou a abrir e, no processo, tripas e órgãos caíam ao chão, até que todo o bico da ave abriu-se, emitindo um estridente som. Levei as mãos aos ouvidos, sentindo minha pele de aço se desfazer, falhando e assumir uma densidade quase líquida, escorrendo e se desintegrando, até que de repente eu estava sem pele alguma de aço, somente a minha. Olhei para as hienas, agora todas formando um cerco ao redor de Nox, Apolo, Winchester, Grey e eu. Foi então que, assumindo a frente, a soldado Grey ergueu suas mãos, e estas assumiram um brilho prateado, criando então uma redoma ao nosso redor.

Fomos atacados impiedosamente pela ave, espetando seu bico e lançando penas contra nós, porém sem sucesso. Era visível todo o esforço da morena, seus braços tinham um tom cada vez mais cinzento, enquanto ela caía de joelhos, esforçando-se. Ela teria só mais alguns segundos. Foi então que cogitei um plano. Olhei para o soldado Apolo, cujos poderes envolviam uma espécie de chama verde que criavam plantas de forma tresloucada. Segurei-o pelos ombros, apontando para a nossa esquerda.

— Apolo, ataque o flanco esquerdo com seu fogo verde, crie plantas distrair as hienas e enroscá-las, enquanto isso Nox avança e ataca elas. Grey, crie uma redoma e tente prensar as hienas do flanco direito contra a parede do prédio por quanto tempo for necessário. Winchester, cante para ferir os ouvidos delas, mas não na minha direção ou eu posso reverter a minha forma física, está entendido? — dei para cada um uma tarefa, e então todos assentiram, pois ninguém ali tinha uma ideia melhor. — Certo. Grey, abaixa o escudo. — Comandei, e então corri na direção do pássaro assim que a muralha cinzenta foi baixada.

Todos seguiram de acordo com o que propus, enquanto isso eu segui correndo e dei um salto, transmutando minha pele para a de metal, enquanto criava duas presas de serpente na boca e, assim que senti o bico da ave morder meu corpo com força, cuspi dentro da boca do pássaro o veneno. Imediatamente fui solto, enquanto a enorme águia recuava e cuspia, desaprovando o veneno. Balançando as suas asas em sinal de ameaça, ela avançou, e então gritei para Grey:

— Lance eles para a águia! — berrei e, ainda segurando as cinco hienas contra a parede, Grey envolveu-os e os atirou na direção da ave que, frustrada, começou a comer monstro por monstro, pegando inclusive quase todos no ar, comendo-os e destroçando-os. Transformando minhas mãos em pedras, bati-as, lançando faíscas diretamente no emaranhado de plantas que agarravam as hienas restantes, ateando fogo às mesmas. — Winchester, faça uma linha de plantas.

Ele tomou a frente, criando uma linha perfeita de plantas que iam subindo vertiginosamene, quase como uma muralha, e então ateei chamas às plantas ao roçar minhas mãos transformadas em pedras. O fogo se alastrou com rapidez, obrigando a ave a recuar e voar assustada para longe. Não houve aplausos, entretanto; apenas suspiros de alívio, mãos nos joelhos, choros e lamentos. O fogo agora se espalhava, consumindo os corpos de nossos parceiros, enquanto todos os cavalos estavam todos despedaçados pela ave que acabamos de enfrentar. Estávamos sem mais alternativas.





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Mensagem por Valentin Lancaster Sex Abr 26, 2019 2:22 pm




       
noite cinzenta (3/5)





Montamos um acampamento em um prédio fechado, que no passado havia sido um daqueles "condomínios residenciais", de modo que ficávamos ocultos do frio e dos monstros à espreita. Assim que deixamos nossos parceiros e cavalos mortos para trás, colhendo somente o essencial, já era pôr-do-sol, então tivemos que nos contentar com o prédio atual, afinal não tínhamos como ficar procurando por mais. Estávamos cansados, tínhamos menos da metade dos alimentos e água necessárias para passar dois dias, pois grande parte dos suprimentos foi destruído pelas hienas e pela enorme águia. No meio do que seria uma sala de estar, armamos uma fogueira e a acendemos, ocultando todas as janelas para que as chamas não atraíssem visitantes indesejáveis.

Permanecemos calados, ainda atordoados com a morte do líder da expedição, Holland, assim como as mortes cruéis de Collins e, principalmente, a de Mose. Ele era um jovem agradável, sempre lendo livros e muito inteligente, além de ter entrado na tropa recentemente – mais precisamente, dois meses. Ele tinha um futuro brilhante pela frente, mas que fora interrompido por aquelas coisas cruéis. Era injusto, mas não tínhamos como fazer nada para impedir. Enquanto descansava deitado no sofá, com a fogueira próxima de mim, pensava no que havia me levado até aquele ponto. Se meu pai ainda estivesse vivo, eu estaria aqui? Lutaria ao seu lado ou teria decidido outra coisa da minha vida? Parecia ilógico cogitar outras possibilidades, mas não conseguia evitar de pensar nisso, enquanto sentia um fardo enorme no meu peito, ao ponto de doer.

— O que foi? — perguntou Nox, sentado numa cadeira, os braços estendidos enquanto Apolo cuidava dos seus ferimentos. Como eu havia blindado minha pele, não tinha ferimentos, apesar de ainda sentir a área da minha cintura e abdômen doer pelo aperto do bico daquele pássaro.

— Pensando em tudo. Sobre como eu decidi arriscar a minha vida só por causa do meu pai. Digo, ele morreu, mas e se ele estivesse vivo, eu estaria aqui com vocês? — perguntei, apesar de olhar para o teto mofado e falar mais comigo mesmo do que com eles. Grey, que bebia alguma coisa no seu cantil que poderia ser tudo menos água, riu da cozinha.

— Há, duvido, Lancaster, você nasceu para isso, camarada — dando mais uma golada, ela atirou o cantil para Nox, que começou a beber e fez careta. — Você se saiu bem no campo de batalha. Não deixou ninguém para trás, criou um plano em segundos e o fez dar certo. Você é literalmente a combinação de músculos e cérebro, cara. — Comentou ela, uma mão apoiada no balcão que dividia a cozinha da sala e então olhando para Winchester, ainda sentado na cadeira e com um caderno de desenho no colo, escrevendo alguma coisa. Recebi um olhar estranho de Grey, como se não gostasse da introspecção do rapaz.

Foi então que entendi o que ela quis dizer, ou melhor, insinuou; trauma. Soldados voltavam cobertos em sangue diversas vezes, já vi com os meus próprios olhos. Alguns ficavam mudos por meses, até, outros ficavam com a mente atordoada para sempre e eram poucos os que saíam das muralhas e voltavam plenos, mentalmente falando. Winchester mantinha os olhos fixos no caderno, desenhando de maneira frenética e que podia ser ouvida por todos nós. Ainda deitado, estalei os dedos, chamando a sua atenção.

— Winchester? Você está bem? — questionei, ainda dolorido, sem poder me levantar do sofá por ora. Ele ergueu seus olhos azuis e assentiu, voltando a desenhar embevecido com o que ele criava, fixo no caderno.

Como já estava muito cansado, enrolei-me na manta e fechei os olhos, entrando praticamente em coma.

***

Acordei com um som alto demais, longe, mas ainda irritante. Parecia algo sendo arrastado, que provocava um ruído insuportável aos meus ouvidos. Era como se metal estivesse raspando metal ou o chão. Ficando de pé ainda um pouco manco pela dor em meu abdômen – agora com uma faixa grossa de gase em volta –, notei que Nox, Winchester e Grey haviam sumido, restando apenas Apolo dormindo numa das camas do primeiro quarto. Ouvi o som de alguém arfante e mais alguns, estes de socos violentos. Agarrei uma espada, descendo as escadas e indo ver o que era aquilo. Estranho; Nox e Grey eram veteranos, nunca sairiam sozinhos para caçar monstros sem chamar os outros, então por que levariam apenas Winchester e deixariam Apolo e eu para trás? Buscando não fazer muito barulho, desci as escadas com pressa, engolindo em seco e deixando minha espada cair ao chão com o susto.

Amarrados a uma cadeira, Grey e Nox estavam desacordados, com Winchester os encarando, um sorriso bizarro em sua face, estranhamente diferente, até que notei: havia um desenho em seu caderno, na verdade vários; todos eram de imperfeitos. Assim que Winchester se virou e me olhou, engoli em seco ao ver sua boca cheia de dentes pontiagudos e sujos de sangue. Foi aí que eu vi; Nox, com seus olhos arregalados e estáticos, seu estômago aberto e com pedaços comidos de órgãos esparramados pelo chão. Uma risada cínica saiu dos lábios daquele maldito comedor de pessoas.

— O que você fez, Win? Você... — comecei a falar, mas ele fechou o livro subitamente e estendeu uma arma na minha direção. Avancei um passo, já cobrindo minha pele por aço, porém ouvi um zunido insuportável em meus ouvidos, fazendo-me curvar o corpo com agonia. Era como se gelo percorresse minhas veias.

— Eu só estou fazendo aquilo o que eu deveria ter feito há anos. — Proferiu ele, sorrindo, seus enormes dentes afiados e iguais aos de um tubarão. Um pedaço de fígado caiu do estômago de Nox e eu baixei a cabeça, ouvindo o choro baixo e contido de Grey.

— Viemos ver o que estava acontecendo e o encontramos conversando com imperfeitos! — berrou Grey, amarrada à cadeira e aflita, até que Winchester se virou e atirou contra a sua perna direita, bem no tornozelo. Ele ria, não mais era o jovem quieto que partira conosco.

— Eles são os meus amigos, é com eles que eu deveria viver. Livre, solto na natureza, comendo frutas e animais, longe da civilização podre de Weingarten... mas não, fui preso com vocês dentro daquelas muralhas imundas. Vocês me enojam! Tentaram me matar! — as palavras saíam de seus lábios com desprezo, rancor e aversão. Ainda com o cenho franzido, tentava raciocinar sobre o que ele falava, mas tudo me parecia desconexo demais. Tentei então apelar para seus sentimentos confusos.

— Quem fez isso com você? Nós nunca julgamos você, Winchester, você... é legal, ou era até comer o Nox. — Apoiando a minha mão na parede, fiquei de pé, uma outra mão no meu abdômen ferido.

— Eu também pensava isso de vocês, até Nox me olhar com repulsa. Eu estava bem aqui — ele apontou para a porta de entrada do prédio no qual estávamos. — Eu estava sem roupas e me transformei para que eu fosse reconhecido pelos imperfeitos, a minha verdadeira família! — gritou ele, apontando o dedo para o próprio peito. Pondo o caderno e a arma em cima de um balcão à direita dele, Winchester começou a se despir.

— Ele é um imperfeito, Lancaster! Mate-o enquanto pode, ele vai nos sacrificar para os monstros! — berrou Grey, advertindo-me desesperada e com lágrimas nos olhos, até que, num ato ligeiro, as unhas compridas e negras de Winchester rasgaram a sua garganta, fazendo sangue irromper do corte numa cascata rubra que empoçou o chão inteiro.

Boquiaberto, peguei a espada e corri em sua direção, até que ele simplesmente abre a boca e eu caio de joelhos, minha pele mudando de forma ininterruptamente; escama de peixe, de serpente, pelos de leão, de tigre, aço, ferro, ouro, prata, rocha, pétalas de flores, roupas surgiam e sumiam em meu corpo, enquanto eu jurava que eu até mesmo me transformava em outras pessoas, mesclando as transformações de forma desordenada. Grunhi de dor, apoiando as mãos no chão e encarando o meu reflexo no chão de mármore negro. O som emitido pelos lábios de Winchester era forte demais, agudo demais, e eu nunca conseguiria vencê-lo daquele jeito. O corpo da soldado Grey ainda tremia enquanto perdia a sua vida, e eu chorava por ela, mesmo entre as transformações.

— Talvez você seja como eu, Lancaster, um monstro. Eles tentaram me matar quando eu era pequeno, eu era uma aberração, mas demorou muito tempo para que minha família conseguisse comprovar que eu era um deles, uma quimera. — Despindo-se, Winchester ficava nu e apresentou seu corpo, humano e comum, com exceção de suas unhas negras e enormes. Entretanto, algo começou a mudar nele.

Seu corpo ia assumindo uma tonalidade cinzenta, com diversos ossos exposto no corpo excessivamente magro, porém alto e de aspecto horrendo. Ele era disforme, com pedaços de pele cinzenta pendurada, um focinho comprido semelhante ao de um cão, porém com fumaça constantemente saindo da região. Ao abrir sua boca, ele emitia sons que pareciam um compilado de grunhidos de animais morrendo, gritos por ajuda e rosnados. Era simplesmente horrível. Ele ficava em pé com as duas patas traseiras, as dianteiras prestes a me atacar. Foi então que ouvi passos apressados e, finalmente nos encontrando, Apolo berra ao ver o monstro e então me ajuda a ficar de pé, alarmado.

— Que espécie de monstro é esse? — ele bramiu ainda assustado, começando a chorar ao ver os corpos de seus dois parceiros. Ainda exaurido, apontei para o monstro.

— Winchester. Ele é um wendigo. Ele acha que é uma espécie de aliado dos imperfeitos, ele pode usar o poder da voz para atraí-los, precisamos sair daqui. — Exclamei, apressadamente empurrando Apolo e fechando a porta atrás de nós, enquanto seguimos o percurso para as escadas, onde poderíamos nos esconder do monstro e seus parceiros.

Eu lembro-me perfeitamente das lendas sobre wendigos: eram monstros amaldiçoados, espíritos vindos das lendas indígenas das Américas, onde canibais se transformavam em espíritos monstruosos, com pele cinzenta, ossos expostos e famintos por carne humana. Eles tinham olhos vermelhos, amarelos ou completamente fundos, tinham feições esqueléticas e cheiravam a morte e decomposição, além de deixarem os ambientes mais frios. Se todos os livros que li estavam certos, prata seria efetivo contra ele. Assim que chegamos aos corredores, Apolo quase foi para nosso antigo quarto, porém o detive e puxei-o com violência pelos cabelos.

— Ai, cara! Precisamos das nossas armas! — vociferou ele, me dando um empurrão.

— Não, precisamos nos livrar daquele monstro e só prata pode feri-lo. Nossas armas não farão nada e é para lá onde ele irá primeiro. — Repreendi-o, e então fomos para um quarto qualquer, fechando a porta. Certo, até ele chegar a esse quarto poderíamos ter alguma chance. Corri para a cozinha, procurando por objetos de prata e encontrando apenas talheres de inox. Merda!

— O que você está fazendo? — sussurrou Apolo escondido por detrás do balcão da cozinha, fazendo "shi" para mim, que estava ainda de pé e vasculhando a cozinha. — Se esconde, cacete!

— Precisamos de prata! — exclamei, procurando por inúmeros armários qualquer tipo de objeto feito de prata, mas sem sucesso.

— O que isso tem a ver?

— Eu li inúmeros livros que citavam Wendigos, e em todos sempre falam da fraqueza deles contra prata. Só assim iremos feri-lo.

Parecendo ter compreendido – finalmente – o meu objetivo, Apolo trata de me ajudar e, sorrindo para mim de forma estranhamente familiar, ele aponta para a sala de estar, onde havia vários pratos vazios. Não havia nada de prata ali. Dando de ombros e com uma cara de "o quê?" gigante, ele revira os olhos e então segura meus ombros, apontando para o teto. Um lustre de prata. Abismado com a esperteza de meu parceiro, subi na mesa com cuidado e agarrei o lustre, transformando a minha pele em aço para poder aguentar o lustre de prata, entregando-o a Apolo para compartilhar o peso. Arfando, conseguimos colocá-lo no chão e então comecei a transmutar minha pele para a prata, usando minhas mãos para quebrar o lustre nas suas pontas, de forma que tínhamos estacas agora, graças ao formato natural da envergadura da ponta do lustre. Perfeito!

— Vamos, precisamos sobreviver a isso, ou eu não me chamo Lancaster. — Murmurei para Apolo que, assentindo, respirou profundamente enquanto ouvíamos os rugidos do wendigo se aproximando.

***

Assim que a porta caiu, avançamos. Uma chama verde atingiu o solo e plantas se enroscaram em volta das pernas de Winchester. Acima dele, segurando-me nas vigas do teto, saltei sobre o monstro e então cravei dois pedaços do lustre de prata nos olhos da criatura, fazendo-a bramir, enquanto tentava sair do lugar. Com as mãos transmutadas em prata, dei socos nas estacas, fazendo-as sumirem nos olhos do wendigo, até que fui pego pelo tornozelo e atirado contra a mesa, fazendo-a quebrar com o peso atual do meu corpo constituído por prata. Mais chamas esverdeadas eram atiradas contra o wendigo, o que o fez ficar ainda mais preso.

— Apolo! A cabeça dele! — berrei, apontando para o lustre próximo dele, do qual ele pegou mais um pedaço e então fincou na garganta de Winchester, fazendo-o emitir um rugido animalesco, caindo de joelhos e sendo engolido pelas plantas.

O corpo do rapaz começou a entrar em combustão, chamas começaram a queimá-lo e incinerar todo o seu corpo esquelético, enquanto a porta de saída da casa era consumida pelas chamas. Como sairíamos dessa? Nossa única saída era pela porta, ou isso ou iríamos pular pela janela e cair por cinco andares.

— Como saímos daqui? — questionou Apolo, desolado.

Eu também não sabia.





2253 words


Última edição por Valentin Lancaster em Sex Abr 26, 2019 5:13 pm, editado 1 vez(es)
Valentin Lancaster
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12/04/2019

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Mensagem por Valentin Lancaster Sex Abr 26, 2019 5:12 pm




       
sobreviventes (4/5)





Conseguimos coletar pedaços de madeira que encontramos de uma construção velha em ruínas, podendo assim criar uma fogueira decente que, graças ao meu poder, pude bater minhas mãos transformadas em pedra para gerar faíscas. O calor das chamas nos aqueceu durante a noite, usamos nossas jaquetas para nos cobrir e criei pelos em meu corpo para me aquecer melhor durante o frio da noite, mantendo Apolo próximo de mim para que fosse aquecido também. Havíamos conseguido matar o Wendigo com sorte, matando-o com prata e então o mesmo se incinerou do nada, ateando fogo ao apartamento. Graças a minha capacidade de controlar a minha densidade corporal, me tornei leve ao ponto de flutuar e então levei Apolo comigo, pousando de forma turbulenta no solo e escapando com vida.

Havíamos sobrevivido com muita dificuldade, mas agora estávamos bem. Não olhamos para trás, deixando todos os nossos itens, incluindo armas e comida, sob o risco de termos de enfrentar novamente o wendigo. Entretanto, com o fim da madrugada e o início do amanhecer, a fome se apossou de nós. Apagando a nossa fogueira, saímos do estacionamento subterrâneo e então nos vimos no meio das ruas, com fome e sem destino.

— Mapas? — perguntou Apolo, e então vasculhei os meus bolsos, sem encontrar nada. Maneei a cabeça em negação. — Comida? — Fiz que não com a cabeça e, chiando a língua, ele revirou os olhos. — Água, pelo menos? — bufou ele, revirando os olhos e se jogando no capô de um carro velho, choramingando infantilmente. Ri de seu desespero, apesar de estar profundamente preocupado com ele e também comigo, pois poderíamos passar mal muito em breve caso não conseguíssemos nos cuidar.

Foi então que, ao atravessarmos uma rua, vi ao longe um parque, com árvores e grama alta e vasta, e foi então que uma ideia me veio à mente. Havia lido vários livros sobre como sobreviver em florestas e, como as cidades agora eram engolidas pelo verde, tinha quase cem por cento de certeza de que eu conseguiria encontrar o que precisávamos: comida. Passei a procurar de árvore em árvore, olhando para o chão procurando por pequeninos galhos e folhas. Segundo os livros, esquilos costumavam criarem ninhos cheios de nozes e deixavam rastros para trás de galhos miúdos e folhas roídas. Achei um indício numa das enormes árvores e, caçando dentro de seu tronco, puxei várias nozes envoltas por pedaços de grama, galhos e folhas cortadas pelos poderosos dentes dos esquilos.

— Cara, como fez isso? — Apolo gargalhou, já pegando a mão cheia de nozes. Dei de ombros, indo para a árvore seguinte.

— Livros. Desde pequeno o meu pai sempre foi muito intelectual, ele sempre teve esse desejo de me deixar o mais inteligente e preparado o possível para o mundo aqui fora. — Comentei um pouco cabisbaixo, enfiando a mão em mais um ninho de esquilo e puxando nozes, um pouco maiores do que as anteriores. Interessante.

— Bem, meu pai sempre foi um merda, entrei na tropa justamente no intuito de me livrar dele. — Confessou Apolo sem jeito, parecendo nutrir certa mágoa do pai.

— Por quê? Ele não aprova a sua vida na tropa?

— Não, ele não aprova a minha vida como um todo. Sempre fui ruim para ele, nunca consegui superar as expectativas dele, sabe? Sempre era só médio ou inferior, nunca me saía bem em nada, até que descobri que eu queria me unir à tropa expedicionária e ele surtou. Aparentemente, ele queria que eu liderasse seu negócio em Kaleo, ele era dono de uma loja e mexia com venda de alimentos. — Chutando uma pedra, Apolo comia as nozes com gosto, matando a sua fome e repondo energias. Agachado, sentei-me debaixo de uma das árvores e chamei ele.

Não conseguia imaginar o quão ruim deveria ter crescido com um pai crítico, que sempre julgava você e que o colocava para baixo. Meu pai sempre havia sido o meu maior herói, que sempre me apoiou, independente do que eu decidisse. Éramos parecidos, entretanto, o que me fez pensar em como eu viveria sem a aprovação dele ou caso fôssemos muito diferentes.

— Acho que, no fim, nossos pais nos moldaram, seja em vida ou em morte. — Admiti, recostado ao tronco da árvore e então peguei uma pedrinha, jogando-a na mata fechada logo a nossa frente.

E então, ela acertou algo que rugiu, fazendo eu desencostar a cabeça do tronco e me entreolhar com Apolo. Alguma criatura estava ali. Apontei com o queixo para a árvore, indicando que meu parceiro a escalasse e ficasse em segurança. Semicerrei os olhos, revestindo a minha pele de diamante e então esperando o monstro sair da mata. Era um cão de três cabeças, cada uma pior que a outra, rosnando e latindo com agressividade antes de correr na minha direção. O mato era alto no centro do parque, de forma que me joguei contra ele e então aproveitei disso para fugir das mordidas do cachorro. Apolo, em cima da árvore, me olhava com medo e apreensão.

Parti para cima do cão e desferi um soco na sua cabeça esquerda, segurando a do meio debaixo do meu braço direito e apertando-a, enquanto tinha a parte posterior de meu corpo mordido pelo cachorro. Acertei vários socos na cabeça da direita, a esquerda ainda inconsciente pelo soco anterior. Apertando com mais força a cabeça do meio, esmaguei-a, sentindo todo o sangue cair em meu corpo e então bati as duas cabeças restantes uma na outra, até esmagá-las. Virando-me para Apolo em cima da árvore, sorri já começando a falar, até que notei: ele não estava mais lá.

— Apolo? — perguntei, olhando em todas as minhas direções, até que ouvi seu grito ao longe e parti para as ruas, pulando a cerca de aço e encontrando-o mais a frente, onde me desesperei ao vê-lo sendo arrastado por um escorpião negro e enorme. — Apolo!

Mas não havia como alcançá-lo, então passei a voar ao mudar a minha densidade, buscando salvá-lo. Apolo era arrastado pela rua aos gritos, a ponta da cauda do escorpião segurando sua grossa camisa e jaqueta, rasgando-as enquanto ele era puxado violentamente. Eu só precisava chegar até ele antes que seu corpo fosse penetrado, só precisava disso. Eu tinha de salvá-lo, ele era o meu amigo e dependia de mim. Caso ele fosse picado pelo escorpião, morreria em segundos e não haveria nada que pudesse salvá-lo fora de Weingarten.

O escorpião gigante ergueu o corpo de Apolo, lançando-o pelo ar bem à sua frente, e voando consegui agarrar seu corpo com força antes que ele se chocasse contra um prédio. Ele tremia, assim como eu também tinha medo de perdê-lo. Pousando, o soltei e o empurrei, pouco antes de eu ser acertado pelo escorpião em minha pele que, graças ao mimetismo, estava blindada por diamantes. A pressão do impacto me atirou para dentro de uma loja, mas já fui me pondo de pé e corri para fora do estabelecimento, correndo até o monstro para poder atacá-lo, mas foi aí que eu tive de recuar quando todo o solo foi literalmente destruído e erguido, plantas foram saindo e expondo canos abaixo de todo o concreto, o escorpião foi então pego por vinhas, cipós e inúmeras plantas que eu sequer conseguia reconhecer. Voltando-me para Apolo, o mesmo piscou para mim, suas mãos brilhando esverdeadas com as chamas verdes.

— Você não está só, Lancaster — exprimiu ele antes de suas vinhas e cipós envolverem o animal, literalmente esquartejando-o.

Boquiaberto, sorri para o mesmo, correndo até e o abraçando. Não era muito normal soldados se abraçarem, mas foda-se. Eu estava vivo, ele também, e havíamos sobrevivido a hienas que falavam, uma ave gigante, um parceiro de comboio que virou wendigo, um cão de três cabeças e um escorpião de tamanho titânico. É, sem sombra de dúvidas éramos sobreviventes. E nós iríamos achar o nosso caminho de volta para casa.





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Valentin Lancaster
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Mensagem por Valentin Lancaster Ter Abr 30, 2019 3:21 pm




       
o fim (5/5)





Caminhávamos com os olhos atentos, buscando estarmos em modo de alerta caso surgisse alguma ameaça dos prédios, casas e mato que encobria toda a cidade. Passávamos por relvas altas no meio de ruas asfaltadas, prédios engolidos por vinhas, ervas-daninhas e grama. Ainda estávamos cansados, porém continuávamos; precisávamos achar um lugar para passar a noite e então partir para Weingarten logo pela manhã. Entretanto, aqui e ali víamos ghouls, imperfeitos dentre outros monstros, contra os quais evitávamos lutar lutar e apenas dávamos meia volta e seguíamos na direção oposta, entrando em becos, prédios, lojas e até em lixeiras antigas para fugirmos do perigo.

Não era exatamente o melhor momento da minha vida como soldado, afinal, éramos ensinados a sempre lutarmos por nossa sobrevivência, a enfrentar os nossos inimigos de frente, sem medo algum, matar um por um até restar mais nem um deles de pé. Mas, tínhamos quase nenhum recurso, armas de fogo ou brancas, nossa comida havia sido nozes colhidas num parque já estávamos perambulando a cidade faziam-se quase sete horas, somente parando para nos escondermos das bestas à espreita.

— O que iremos fazer? — perguntou Apolo, engolindo em seco e com sua pele cheia de fuligem proveniente do carro velho no qual nos escondíamos. No banco de trás do mesmo, nos escondíamos e esperávamos a procissão na rua de imperfeitos cessar para poder continuarmos a marchar para algum lugar fora desse gigantesco inferno. Ele parecia cansado, mais destruído do que nunca.

— Vamos sobreviver. Iremos encontrar mais comida, água... — minha voz falhou devido a sede, engoli em seco e tentei umedecer os lábios, mas minha língua parecia ser constituída de areia no momento. — Vamos sair dessa, Apolo, eu te prometo isso. — Comentei, segurando sua mão ferida e então notei que ele precisava de uma bandagem. Rasguei parte de minha roupa, criando uma gase improvisada e amarrando em volta da palma de sua mão, segurando-a.

A verdade era que eu não tinha certeza se iríamos conseguir sair dali vivos. Passamos por situações letais várias vezes desde que chegamos, entretanto ainda estávamos aqui, vivos, mas eu não sabia até onde iríamos chegar daquele jeito. A cada hora o cansaço nos atingia, a cada minuto a sede aumentava, assim como a nossa fome. Nos esgueiramos para fora do carro, dando uma olhada para as ruas ainda escondidos no beco, notando que a área estava limpa. Foi então que eu o vi: era um daqueles enormes tonéis com água usada para casos de emergência, como incêndios e afins. Provavelmente deveria haver água ali, mesmo que estivesse contida há mais de trezentos anos naquele recipiente de madeira. Ao indicar o tonel, Apolo fez uma careta de desconfiança.

Tendo uma ideia, voltei ao carro, rasgando o couro do banco e então, satisfeito, transformei o meu braço em planta, retirando pedacinhos do caule que havia me transformado e então voltando o antebraço ao normal. Virando-me para Apolo, sorri com a sua confusão. Com uma adaga que ele possuía e peguei emprestada, comecei a unir os pedaços de couro e, usando da fina linha do pedaço do caule, improvisei um cantil, costurando

— Não sei não sobre isso, Lancaster. — Comentou ele, coçando a nuca e então, uma vez no corredor do outro lado da rua, olhei ao meu redor e, flutuando até o topo do prédio, levei Apolo comigo e pousamos no topo do edifício, onde tateamos o tonel e demos batidas no mesmo, constatando que realmente havia muita água ali.

— Certo, só abrirmos a tampa e literalmente pularmos na água. — Já fui subindo as escadas, abrindo o tonel e dando uma olhada. Havia água, graças a Norman, estávamos salvos. Entramos na água, fria e gélida. Haviam corrosões na madeira, assim como um pouco de musgo, entretanto, não precisávamos nos preocupar com a mesma; éramos todos imunes, as quimeras. Bebemos o máximo de água que podemos, guardando grande parte dela nos cantis improvisados que eu havia criado. Dando uma última olhada ao meu redor, calculei para qual direção deveríamos ir.

Cansados, saímos do tonel e então descemos levitando até o beco na lateral do prédio, já nos encaminhando para a trilha que nos levaria de volta para casa. Poderia voar, mas acabaria ficando cansado e ainda teria de levar Apolo comigo, o que provavelmente só nos faria sobrevoar por uns dois quilômetros, no máximo, e então eu cairia cansado no chão e nos arrebentaríamos. Íamos com cuidado, sempre que avistávamos uma das criaturas nos desvíavamos, pegando um novo rumo ou nos escondendo, caso necessário. Após quilômetros andados, Apolo, se encostou numa parede e deslizou, quase desmaiando. Agarrei-o pela gola da camisa, dando tapinhas na sua face tentando fazê-lo despertar.

— Acorda, Apolo... — murmurei baixinho, pois na rua logo à frente haviam vários ghouls e estaríamos fodidos caso eles nos notassem. Ele sussurrava coisas ininteligíveis, seus olhos mal abriam e o cansaço parecia tê-lo vencido. Dei água a ele, mas ele estava mesmo era com fome. Bem, eu também estava, mas ele parecia estar numa situação bem pior que a minha.

Bem, eu precisava testar a minha teoria, ou poderíamos ficar realmente em um estado terrível e nunca conseguiríamos chegar vivos a Weingarten. Meu braço transmutou-se em um grosso tronco de árvore, meus dedos se alongaram enquanto se transformavam em galhos e, com um gemido de estranhamento diante daquela coisa que eu fazia, as pontas dos galhos começaram a brotar pequeninos frutos, que cresciam à medida que eu ia me esforçando. Era algo diferente, porém fui me acostumando e então as maças foram crescendo, se tornando maiores e vermelhas, até que arranquei-as e senti uma pontada de dor como uma agulhada na região, e então ofertei-as para Apolo, comendo também algumas. Ao todo eram cinco maças, uma crescendo em cada dedo-galho, então comemos duas e meia, cada um.

— Apolo, você está bem? — perguntei preocupado.

— Estou... bem melhor, vamos... — murmurou ele entredentes, terminando de comer o último pedaço de sua maça, ficando de pé com bem mais energia. Bem, estaríamos a salvo da fome até chegarmos a Weingarten.


***


Com um pouco mais de energia, aos poucos começamos a sair dos limites da cidade e fomos para a nossa cidade. Saímos da rodovia, entrando na mata e então aproveitei da distância da grande metrópole para voar, carregando Apolo com as minhas mãos nas suas. O vento era frio naquele horário, castigando a minha pele enquanto já podia ver as muralhas de Weingarten ao longe. Era isso; estávamos salvos. Ouvi Apolo falar alguma coisa, mas a tempestade de neve que começava a cair parecia abafar todo o som, e tudo o que eu ouvia era o silvo do vento forte e gélido. Não conseguia ouvi-lo, mas então o vi apontando para algo que vinha em nossa direção.

E então tive de desviar o voo no último segundo, despencando do céu e pousando de forma violenta contra o chão, rolando Apolo e eu na grama esbranquiçada pela neve. O enorme pássaro pousou, suas garras cravando-se no solo enquanto um grito estridente era emitido. Suas asas se abriram, majestosas e assustadoras, enquanto ele avançava contra nós. Pulei para a minha direita, enquanto Apolo lançava bolas de fogo verdes no bico da ave, prendendo-o com vinhas que logo eram rompidas pela força colossal do monstro. Divididos, atacávamos como podíamos, cada um de um lado. Agarrei uma pesada pedra com o meu corpo já transformado em diamante, atirando-a na águia gigante e atraindo a sua atenção.

— Apolo, as patas! — berrei para o rapaz, que envolveu as patas da ave com vinhas resistentes por tempo o suficiente para que a mesma caísse no chão e, correndo, voei e desci com força no ar, aumentando minha densidade e me transformando em diamantes pontiagudos da cabeça aos pés, caindo diretamente na cabeça do monstro e, com os dois punhos acertei a águia bem no crânio, esmagando-o e lançando pedacinhos de seus miolos radiativos por todas as partes.

Estava acabado. Saí de cima da cabeça titânica do monstro e recebi a mão de Apolo para que me ajudasse, e então vimos uma bola de fogo vir em nossa direção sobrevoando o céu cinzento. Era o nosso capitão. Era isso, estávamos salvos. Erguemos os braços na sua direção, sorrindo e nos abraçando. Éramos sobreviventes, havíamos vencido e voltamos em segurança para casa, apesar da tragédia em nossa primeira missão. Estávamos bem, e nós éramos sobreviventes.





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[DIY] i'm a survivor, i'm not gonna give up

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Mensagem por Deva Qua maio 01, 2019 2:04 pm

AVALIAÇÃO

Uma narrativa longa requer uma avaliação longa, certo? Vou começar dizendo que, de forma geral, gostei muito da forma como desenvolveu sua missão. A DIY foi longa, mas você conseguiu distribuir uma sequência de cenas interessantes o suficiente para que a leitura não se tornasse cansativa, contribuindo para a fluidez de leitura e me surpreendendo positivamente em diversos pontos da história. Gostei também da forma como apresentou seu personagem, demonstrando a maneira como seu passado e sua relação com o pai afetaram sua jornada até ali. Ressalto, ainda, o quanto foi bom ver como os traços de sua personalidade se manifestaram sob situações de tensão, e a forma como você narrou esses ditos momentos foi bastante eficiente. O enredo construído foi realmente muito bom, parabéns.

Contudo, para ser honesta, senti falta de algumas coisas e vi algumas outras que me incomodaram. Seu texto tem alguns poucos erros de ortografia, mas, como estes não atrapalharam a leitura, não vou descontá-los. O que vou descontar são os erros gramaticais, que por vezes acabavam quebrando o ritmo da narrativa. Notei, por exemplo, que você costuma repetir palavras em demasia na mesma frase. Coisas como "O pobre Mose, agora erguido do chão, seu livro preferido manchado de sangue ao chão, assim como seu óculos que caiu no chão, empapado em sangue", e "enquanto todos os cavalos estavam todos despedaçados pela ave que acabamos de enfrentar [...]", acabaram incomodando um pouco, então, minha dica é revisar bem o texto.

Senti também uma certa "invencibilidade" e incoerência do personagem em algumas situações e, sendo uma missão de nível difícil, acredito que o Valentin deveria ter enfrentado um pouco mais de dificuldade sobretudo nos confrontos finais. Você se saiu bem, por exemplo, naquelas primeiras lutas, quando orientou os colegas de forma inteligente e todos tiveram um papel condizente no sucesso do plano, coisa de que senti falta nos momentos finais. A luta contra o cão de três cabeças, por exemplo, durou um pequeno parágrafo descrito em três frases. Outro ponto que me deixou um tanto confusa é que no início da DIY, Valentin se coloca como uma pessoa de pouco conhecimento geográfico, e no final consegue encontrar o caminho de volta sem qualquer auxílio ou mapa. Por conta disso, o desconto.

De qualquer maneira, a DIY como um todo fluiu bem e você conseguiu me manter curiosa para ver o que aconteceria a seguir durante toda a leitura. Espero ler mais das suas missões. Eis a sua pontuação:


  • Ortografia: 400xp
  • Gramática: 300xp
  • Dificuldade: 200xp
  • Cenário: 400xp
  • Enredo: 400xp


Total: 1700*2= 3400 xp adicionados à sua ficha. (Por conta do seu xp duplo até 03/05)
Deva
12

25/03/2019

Deva

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