Se tinha uma coisa que o Forchheim odiava profundamente era faltar com sua palavra e descumprir acordos já firmados, contudo, na situação em questão, tinha acontecido exatamente isso, ainda que de uma forma completamente involuntária. Um casamento entre as famílias Forchheim e Havard tinha sido orquestrada por seus líderes, Arkadius pretendia casar o seu primogênito com a filha da primeira-ministra do império, de modo que pudesse fortalecer os laços políticos e amistosos entre ambos. Porém, para a fúria do primeiro investigador esse compromisso foi declinado por seu filho, no momento que este se interessou por uma militar de baixo nascimento e fugiu com a mesma. Deixando Arkadius sob estado completo de fúria, uma fúria que nem mesmo sua esposa Nephthys foi capaz de aplacar com sua personalidade dócil, o Forchheim é claro, acabou por culpar a mulher pelo comportamento de seu filho. Na sua visão, Nephthys tinha mimado de mais os filhos, por isso ambos os jovens não eram exatamente o que se esperava, pelo menos na visão do Forchheim.
Um suspiro pesaroso e levemente irritadiço escapou por entre os seus lábios, naquela tarde. Ele se vestia com o seu elegante e bem cortado terno negro, Rylee e sua amante havia sido encontrados sob um casebre qualquer nos campos de Vlitra, toda a situação, no entanto, terminou sob as mãos do imperador. Aumentando somente a irritação do Forchheim a níveis maiores, uma vez que pretendia resolver o assunto internamente sob os salões de sua residência, o que não pôde ocorrer, porque a amante de Rylee, não se tratava de uma militar comum, mas da capitã da Guarda Real. Tudo parecia ter se tornado um assunto de estado, com mais interessados que o necessário. O Forchheim podia pressentir que encontraria mais líderes nobres interessados em toda a situação, não apenas ele e Diana, como era de se esperar. Todavia, terceiros não o impediria de exigir a cabeça da capitã e torcer o pescoço de Rylee, quando os seus olhos recaíssem sobre ele. O primeiro investigador deslizou os dedos rígidos sobre o tecido sedoso de sua gravata vermelho e ajustou o paletó negro, deixando a residência Forchheim rumo ao palácio imperial.
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No salão de reuniões, Arkadius se acomou em silêncio sobre um assento. Percebendo a presença de Amren Renard — a general —, além de Diana Havard. Arkadius encarou o seu relógio de pulso e suspirou, pareciam ser os primeiros a chegar no local. Os únicos com algum senso de pontualidade, entretanto, antes que sucumbisse as futilidades de seu perfeccionismo com horários. Foi interrompido pela entrada do casal de fugitivos, seu primogênito e a amante, que se encontravam diretamente sob o seu olhar acusatório e ríspido. Arkadius torceu os lábios numa linha rígida e manteve o silêncio, encarando Rylee com evidente fúria, antes de direcioná-lo para a jovem militar com certo desdém. Imaginando o que poderia ter feito o seu primogênito se interessar por aquela garota, ela, sob o seu olhar, não parecia possuir nada de especial. O Forchheim manteve o olhar sobre ambos os jovens por mais alguns instantes, cessando-o somente quando o imperador ingressou no salão e tomou o seu assento. Iniciando àquela ridícula audiência familiar.
Arkadius juntou ambas as mãos num único movimento e descansou os cotovelos sobre a mesa, contendo um pouco a sua raiva, pelo menos para escutar o que Rylee e a capitã tinha a dizer. Embora, isso também não fosse significar uma mudança em sua posição a respeito de toda a situação. Querendo ou não, o jovem Forchheim sentado a sua frente era seu herdeiro, então, em sua concepção, deveria ter no mínimo uma companheira a altura de seu sobrenome. O que não parecia ser o caso da militar, a seu lado.