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Mensagem por Brandon Kanda Onawa Seg Abr 29, 2019 10:37 am

l'enfant
A passagem a seguir é FECHADA AOS ENVOLVIDOS. O único a postar é James Cheshire. Nas ruas de El Diablo, por volta das 22hrs. O conteúdo que o texto aborda é LIVRE PARA TODOS OS PÚBLICOS . Nela, James tem sua primeira aventura com o o grupo Chestree, ainda em uma época que se chamava apenas Mikael Hood Forzakken.

É, portanto, uma DIY que aborda o passado, de modo que se torne um pouco mais evidente a construção da personalidade do rapaz e suas tendências de decisões. A DIY faz parte do conjunto L'enfant, uma série de quatro textos que abordará a infância do Cheshire em El Diablo.



Última edição por James Cheshire em Qui maio 02, 2019 12:31 pm, editado 2 vez(es)
Brandon Kanda Onawa
Wolf

24

28/04/2019

Haafingar, área rústica

Brandon Kanda Onawa

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Mensagem por Brandon Kanda Onawa Qui maio 02, 2019 11:55 am

L'enfant des rues


Eram apenas cinco. Cinco arruaceiros maltrapilhos. Cinco jovens magricelas de alturas variadas. Cinco sorrisos divertidos em êxtase pela rua escura. Um grupo pequeno de idades diversificadas, avançando com as vozes altas e piadas internas. Pareciam absolutamente comuns, irritantes e quase invisíveis: meninos pobres e barulhentos eram o tipo de coisa que a maioria preferia ignorar. Mas, claro, aqueles eram especiais. Marcados com os mantos longos do pirata da malícia, com os rostos semi-encobertos pelo capuz das vestes lustrosas, contrastando com o restante do traje, os Chestree eram praticamente o sinal da encrenca encarnada. Mesmo Mikael, ainda muito novo naquele cenário, conseguia perceber.

Enquanto se empurravam com brincadeiras idiotas e ofensas mútuas, as pessoas desviavam o olhar e tendiam ao afastamento. No início lhe foi incômodo, uma pontada suave no peito a cada vez que via um senhor de idade se desviando do trajeto, a cada mulher com crianças pequenas que faziam trocar de calçada. A consciência pesava, os pensamentos iam e vinham. Era fácil ser o mais quieto do grupo naquele momento. Se retraía sem disfarces, o sexto membro que apenas seguia o fluxo da maioria, ambas as mãos nos bolsos da capa e os olhos constantemente passando para os próprios tênis encardidos e desfiados. Sentia-se afundar... Mas não tinha muita escolha.

Morar na rua nunca era fácil, contudo era ainda pior quando se tratava de El Diablo. Recebeu a proteção de Chester na infância e agora precisava compensar os gastos. Diferente dos outros, estava ali apenas para cumprir o dever, não para se divertir. Faria o serviço, entregaria os ganhos para Chester e passaria o resto do dia em qualquer beco mais isolado. Era um plano simples, quase deplorável... Porém, ao menos desviava sua atenção do plano real. Do plano que não tinha sido dele, mas do mais velho da pequena gangue. "Merda." Estalou a língua no céu da boca, respirando fundo e tentando afastar qualquer visualização prévia de possíveis desastres.

Focou no caminho que traçavam, nas pessoas que afastavam e, vez ou outra, nas piadas chulas e imundas que transpassavam pelos outros. Não sabia bem para onde estavam indo com exatidão, mas tinha certeza de que se afastava cada vez mais do rio. Ainda que a região como um todo fosse extremamente pobre, os trabalhadores fixos da hidrelétrica se aglomeravam nas proximidades das águas, junto com a maior parte dos guardas que asseguravam a proteção da energia. Era, assim, um péssimo lugar para procurar confusão, bem diferente do interior do distrito. Pobres sem condições de procurar a polícia, desempregados sem moral para pedir por ajuda, outros contrabandistas. O lucro era menor, os alvos mais fáceis: o melhor custo benefício que se podia ter.

Suspirou baixo, maneando a cabeça em sinal negativo, ignorando o peso de roubar daqueles que já tinham muito pouco. Era uma ideia nojenta e abominável. Ao menos era o que repetia para si mesmo, confortando-se com o aperto no peito para justificar que não era de todo ruim. Oras, se estava arrependido já era melhor do que a maioria. Se sentia desconfortável, então não era de todo ruim. A cada passo batia mais na mesma tecla, forçava mais a própria auto-crítica. Era difícil, entretanto, quando um dos meninos fazia uma piada engraçada. Era difícil quando acabava rindo dos comentários esdrúxulos ou alguém acabava o incluindo nas brincadeiras, empurrando seu corpo miúdo de modo que o fizesse descontar.

O mais difícil, porém, era, sem dúvida nenhuma, quando gostava de ver um brutamontes ou qualquer babaca se sentindo intimidado pelo conjunto juvenil. Sempre fora alvo fácil para comentários maldosos, sempre se viu como um saco de pancadas fácil demais. Antes de ser acolhido por Chester tinha sofrido de diversas formas e, mesmo sem querer, a cada segundo desejava mais daquela sensação de poder, mesmo que só mais uma única vez. E sempre mais uma, não menos do que isso. Era o tipo de coisa que subia fácil para a cabeça, que reduzia qualquer sentimento de culpa ou receio prévio. Estava apenas devolvendo tudo o que fizeram com ele. O pequeno Forzakken, pobre e órfão, desolado e sozinho.

Ainda se lembrava com muita perfeição de cada surra abusiva sempre que pedia comida nos lugares errados. Ainda se lembrava dos insultos. A cada vez que passavam por um rosto conhecido a raiva subia. A cada vez que se lembrava de uma esquina o sangue borbulhava sob a pele. Era difícil se manter culpado e consciente, o jovem puritano no mundo das mazelas. A cada metro cedia mais. A cada passo se tornava mais próximo do grupo. Logo os cinco não eram mais cinco com seu seguidor. Logo eram seis. Seis meninos maltrapilhos, de tamanhos variados e sorrisos cafajestes. Seis rapazes revoltados com piadas sujas e brincadeiras moloides. Sei arruaceiros e ladrões, seis Chestree. Os mesmos seis que se espalharam pela rua principal do bairro mais pobre, camuflando-se com mantos e olhares cabisbaixos.

Mãos rápidas, passos calmos. O coração extasiado enquanto descobria ter o poder de escolher os próprios alvos, selecionando aqueles que acreditava parecidos com agressores de um passado infeliz. Sem armas, sem grande confusão. Surrupiavam sorrateiros uma carteira aqui e uma bolsa ali. De alguns era apenas um pão entre as sacolas de comida, às vezes um relógio no bolso de trás. Logo apenas uma flor, com a certeza de que nada valia. A adrenalina que pulsava nas veias tornava a tarefa divertida e livrava dos ombros o peso do mundo que carregava sobre si. A respiração entrecortada, o olhar esperto. Uma tarde inteira na fartura de pequenos assaltos e grandes mudanças. Mudanças internas que o tornavam ainda mais propício ao próximo ato.

Ato tal que não tardou a chegar.
Brandon Kanda Onawa
Wolf

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28/04/2019

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